A banalidade do maravilhoso quotidiano

lynxpardinus - 2011/07/13

“É muito normal seguir na estrada acompanhado por enormes pássaros. Vejo tantos que, infelizmente, já me habituei. Nos primeiros tempos, era bem capaz de parar a mota e disparar maravilhado. Agora sinceramente já os vou ignorando. Não há como combater esta desvalorização do quotidiano. O momento da apreensão de uma novidade é inigualável e esse prazer é intrínseco ao facto de nos obrigar a trabalhar as estruturas de percepção, a adaptá-las a essa nova combinação de estímulos. Arrisco dizer que tenho desperdiçado alguns momentos e reconheço que há pouco a fazer sobre isso, como pouco podia eu fazer quando a caminho do emprego me sentia incapaz de saborear os inúmeros pormenores bons da rotina que levava, cheia de ex-novidades que em tempos me encantaram. Quando do outro lado do planeta uma águia esvoaça à minha frente e não me emociono, concluo que na raiz da felicidade vive a mudança e que dificilmente servirá para sempre uma qualquer fórmula absoluta.” – in Buena York, de Gonçalo Gil Mata

Pessoalmente, acho que esta é uma das dimensões que o geocaching nos proporciona. Ao nos obrigar a olhar para cada pequena coisa, ao nos forçar a ir atrás deste ou daquele local, monumento, miradouro, igreja, incentiva-nos a contemplar as diferenças e a valorizar o que vemos. Mesmo se já tivermos olhado para o Aqueduto das Águas Livres, para o Panteão Nacional, para a vista da Fenda da Calcedónia, para o Douro ao pôr-do-Sol, para as falésias do Sudoeste tantas vezes, que, para nós, já fazem parte da banalidade da paisagem, o geocaching obriga-nos a abrir de novo os olhos e a mente a vermos a extraordinária beleza que se esconde em cada coisa. Mesmo num “vulgar” desenho de calçada portuguesa numa qualquer praça lisboeta. É por isso que gosto deste jogo.

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