Este log ganhou o concurso de melhores logs de Agosto de 2011.

Corajoso não é o louco que apregoa não recear nada e se aventura imprudentemente no desconhecido. Corajoso é aquele que possui a noção do perigo que se apresenta à sua frente, uma ameaça à sua existência, e ainda assim decide encontrar soluções e força para o ultrapassar – Este foi o meu desafio, esta a nossa aventura:
No primeiro momento que saí do carro para observar com atenção ao que me iria submeter, a primeira frase que disse para os meus acompanhantes, Alieri e Golfinha, terá sido:
“Isto vai ser mesmo muito tramado…”
A vontade era muita e não tardou em fazermo-nos ao caminho pelo trilho existente no lado esquerdo do estacionamento tendo ficado a Golfinha no carro a dar suporte moral e de confiança – não vá o
diabo passarmos a perna e a coisa complicar.
Logo nos primeiros metros vemos a primeira dificuldade: uma corda presa na rocha como quem diz segurem-se aqui e a sensação antecipada de queda no vazio mas uma observação mais próxima e atenta rapidamente revelaria que apenas se tratava dum obstáculo mais manhoso mas executável sem esforço maior, apenas seria necessário cuidado e atenção.
Estes são as palavras de ordem para se concretizar este desafio: Cuidado e Muita Atenção.
Cada passo e progressão deverá ser ponderada sempre sem baixar as guardas ou o resultado poderá ser mesmo um grande
JERÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓNIMOOOOOOOOOOOOO.
Ultrapassada a curva da corda (temos de dar nome às coisas) surge o primeiro trilho em escarpa com a largura de pouco mais de dois pés lado a lado e logo no final deste a primeira grande descida numa crista que transmite a desagradável sensação de piso pouco estável e “escorregadio”. Sabendo que o meu grande problema são as quedas vindas deste tipo de piso, não hesitei em descer o centro de gravidade e vencer a crista com mais um ponto de apoio para além dos pés e mãos o que acabou por dar uma agradável sensação de confiança.
Conforme progredíamos, o vento alternava entre ligeiras brisas refrescantes e fortes rajadas que pareciam nos querer derrubar crista abaixo e só mesmo junto ao cruzamento com o trilho que dá acesso à cache vizinha, a tal do ninho da gaivota (por acaso até vimos um ninho de gaivota mas este era móvel – a natureza é uma coisa tão linda ) é que os níveis de adrenalina desceram um pouco e respiramos com mais segurança.
Do cruzamento para a frente, o trilho é mais aberto e o esforço psicológico menor pelo que se pode levantar um pouco (não muito) as guardas, fazer umas belas fotografias e apreciar bem o local que é divinal não se ficando apenas pela paisagem distante mas observando com atenção as coisas que estão mais próximas. Vencido este troço e chegando ao final do trilho chega aquele que entendemos ser a parte mais complicada do desafio, aquilo que levará muita gente a experimentar o desejo de querer desistir – a subida final.
Cá em baixo, no final do trilho a sessenta metros da cache, olhamos para cima e ficamos com uma estranha sensação de pequenez tomando consciência que a largura da crista é bastante curta e qualquer que seja o lado escolhido para cair resultará mesmo numa grande alhada com fortes probabilidades de não existir ninguém lá em baixo a amparar a queda fatal.
O vento, bom, esse teimava em querer soprar cada vez mais forte. Ainda há pouco no trilho da escarpa mal se fazia sentir e agora parece que veio todo duma vez só para dificultar ainda mais as coisas. O Alieri foi o primeiro a começar a subida num terreno que visto de baixo parece extremamente escorregadio mas não tardou em dizer que até se sobe bastante bem e sem grande dificuldade. De facto assim foi e o que parecia muito complicado afinal dava um excelente piso – valha-nos ao menos isto.
Já no final, um pouco antes de encontrar o contentor, eis que surge um momento de frustração. À nossa frente estava um monte de pedras que parecia ser o local da cache que teria desaparecido – Bolas pá, isto não pode estar a acontecer… Mas não, o esconderijo da cache estava alguns metros mais à frente, num pequeno planalto com uma tranquilidade tal que nem parecia estar ali num local que para lá chegar faz iriçar os mais pequenos cabelos dum careca, impressionante.


Feitos os logs e depois de contemplar o local e partilhar a nossa satisfação pela vitória entre nós e a golfinha que se encontrava lá no alto, chegou o momento do regresso que seria iniciado logo pela parte mais complicada mas ao contrário. A subida desafiante tornara-se agora numa descida tramada que nos obrigou a descer durante algum tempo o centro de gravidade por causa das fortes rajadas de vento que se faziam sentir o que certamente aqui será sempre mais ou menos uma constante.
Vencida a descida e o trilho da escarpa ultrapassado, demos a aventura por encerrada no cruzamento para a cache do ninho com uma enorme satisfação, um grande sorriso de vitória e um ego do tamanho do planeta.




Esta cache, mais que o esforço físico necessário, é acima de tudo um desafio psicológico onde se experimentam sensações de ansiedade seguidas de enorme satisfaço a uma velocidade estonteante. Desengane-se quem julgue que é apenas um desafio psicológico! Os perigos estão permanentemente presentes e são bem reais. Certamente haverão dias de chuva ou muito ventosos que farão ostentar uma enorme bandeira vermelha, mas num cenário como o que vivemos é uma experiência absolutamente divinal e gratificante.

Falar desta cache apenas sob a perspectiva do desafio estaria a ser injusto. A paisagem que se apresenta perante os nossos olhos é arrebatadora e dá vontade de pegar na máquina e fotografar, fotografar, fotografar… Devemos fotografar e observar com muita atenção não só o que está distante dos nossos olhos, mas também aquilo que se apresenta mesmo em frente da cara, o terreno que calcamos os locais onde nos seguramos. A riqueza geológica é imensa, são fenómenos uns atrás dos outros que são apresentados de bandeja : tafonis; dobras; diferentes formas de erosão, diversos tipos de xistos, fósseis ENORMES demonstradores que mesmo o local onde se encontra o contentor outrora esteve debaixo de água.
Absolutamente extraordinário.
Deixo um conselho aos futuros visitantes:

Se vierem conquistar as duas caches, façam primeiro o ninho ou sentirão um amargo sabor na boca que a tão badalada cache do ninho da gaivota feita depois desta afinal não passa duma aventura de meninos – é a minha opinião e o que senti.
Esta é sem dúvida uma cache extraordinária, uma das cinco melhores que alguma vez fiz e por tudo o que foi dito merece sem dúvida alguma o meu voto de FAVORITA.
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