Este log ganhou, ex aequo, o concurso de melhores logs de Abril de 2012.
#1472 @ 09:09
A história desta cache começa há algum tempo. E é uma longa história…

(Parte 1)
Desde os meus 5 anos que venho quase todos os anos passar férias para aquela zona. A minha mãe nasceu em Almendra (a penúltima estação da linha do Douro) e a minha sogra nasceu em Vila Nova de Foz Côa (duas estações antes de Almendra). O meu bisavô materno foi chefe de estação de Castelo Melhor (a antepenúltima estação da linha do Douro). Assim, desde 1975 até ao seu fecho em 1988, fiz esta linha muitas vezes, algumas delas no mesmo ano e em diferentes sentidos. E saía sempre na penúltima estação da linha. Dali até Almendra são 12 quilómetros de uma estrada sinuosa que fiz muitas vezes de camioneta, algumas a pé e ultimamente de carro. Tenho recordações da praia de rio, ali ao lado da estação, desde muito pequeno.
Conheço muito bem o trajecto do comboio, pois nos últimos anos antes do seu encerramento, devido a problemas de manutenção da linha, o comboio fazia o trajecto desde o Pocinho a uma alucinante velocidade que chegava aos 10 km/h. Havia quem dissesse que se saísse na carruagem da frente, em andamento, e fosse urinar, ainda conseguia apanhar o comboio na última carruagem. Confesso, que nunca tentei. Mas lembro-me daqueles 20km finais, que demoravam quase 1h, sentado nos degraus das escadas da última carruagem, quase vazia, e a levar com o ar quente de Verão na cara. Era o princípio das férias…
Muitos anos mais tarde conheci quem tenha feito a caminhada que o owner descreve e até vi uma reportagem de uns espanhóis que desceram de La Frageneda a Barca D’Alva (La Ruta de Los Túneles) num daqueles carros-alavanca dos Caminhos de Ferro. E confesso que a parte de Espanha sempre quis fazer, mas o lado português eu já o conhecia bem…
E assim foi! Um dia, para aí há uns dois anos, quando fui comer uns peixinhos do rio à Foz do Sabor, passei na estação do Pocinho e recolhi os dados que me permitiam calcular o segundo ponto desta multi. Quando fui encontrar a Alpechim estive tentado a fazer os cerca de 700m que me separavam desse ponto, mas uma recente lesão na perna esquerda e o imenso calor que ali faz no Verão, fez-me desistir da ideia. Então agarrei numa folha de cálculo, no conhecimento que tenho da região, de algumas regras de geometria e de orientação e fiz as minhas contas. Cheguei a um ponto final, mas não tinha a certeza dos valores. Desisti!
Há um ano, resolvi enquadrar as minhas contas com um levantamento cartográfico pormenorizado da região e tudo bateu certo. Mas tive que esperar por uma boa oportunidade para ir tentar a minha sorte. E foi sábado… Pela primeira vez fiz a parte da linha que não conhecia (entre Almendra e Barca D’Alva) no trajecto que me separava do ponto final. Com o miúdo mais novo às cavaluchas lá fui eu fazer as centenas de metros que me faltavam para o GZ (em vez dos 20km de quem aqui normalmente chega).
A linha está mesmo destruída. Nalguns sítios as travessas arderam, os cabos do telégrafo andam ali pelo chão e surpreendentemente não há vegetação nos túneis (não chove e devem ter colocado algo para que não cresça ali nada). Também já passaram 24 anos desde que ali passou o último comboio.

(Parte 2)
Mas nada me preparava para o ponto final. Confesso que não esperava que o terreno 4,5 significasse aquele final. Imagino o que sofre quem ali chega com 20km de caminhada em travessas de caminho de ferro. E o que se ganha? Eu deixei o miúdo sentado numa pedra e subi… Subi… Subi e quando já achava que tinha subido tudo, ainda faltava subir mais. Para quê? Quando cheguei ao topo, comecei a pensar no miúdo sozinho, no facto de estar a pôr a minha vida em risco (a pedra estava molhada) e a duvidar dos meus cálculos. E vim-me embora… Com uma cãibra numa nádega e ainda caí uns dois metros agarrado a um galho que se partiu. Sem necessidade nenhuma, mas a descida torna-se mais perigosa que a subida.
Fui-me embora! Contente por ali ter estado. Por ter visto a linha. Mas completamente desiludido com aquele final. O miúdo adorou o passeio. E ainda fomos presenteados com uma chuva e com a passagem do barco-hotel.

Chegado a Almendra telefonei a dois geocachers para confirmar se realmente era naquele sítio. Um deles não tinha subido sequer e o outro confirmou que realmente era ali. Eu tinha estado a dois metros da cache e desisti. Possivelmente se tivesse feito os 20km desde o Pocinho talvez não tivesse desistido tão depressa, é verdade.
Mas nada que não se resolva… No dia seguinte, acordei cedo e voltei lá sozinho. Ainda pensei levar corda, mas não foi preciso. Sempre com muito cuidado, sem a pressão do miúdo sozinho à minha espera e com a ajuda do helpdesk sabia que não podia desistir. Mas não se compreende aquele final… Quando a ideia é levar o pessoal a apreciar a caminhada ao longo do Douro.

Obrigado pela cache! E obrigado por divulgarem a região!
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