Enquanto biólogo constantemente envolvido em trabalho de campo, desde sempre tive de georreferenciar os locais onde fazia as colheitas de aranhas, insectos e afins. Até o ano 2000 este trabalho tinha de ser feito com recurso a cartas topográficas. Neste ano, com a abertura do sinal GPS com grande precisão a qualquer pessoa munida de um receptor, este trabalho viu-se subitamente facilitado. Foi em 2001, a trabalhar no Parque Natural do Douro Internacional, que decidi comprar um aparelho. Um Garmin eTrex Venture, verde translúcido, vindo directamente dos EUA. Assim que chegou às minhas mãos, a 16 de Julho de 2001, naturalmente experimentei todas as funcionalidades. Como já nesta altura havia internet generalizada (coisa recente, só a conheci em 1997), imediatamente fui procurar por “GPS”.
Uma das primeiras páginas que surgiu dava pelo nome de Geocaching.
Imediatamente achei o conceito muito interessante, principalmente porque estava sempre à procura de pretextos para sair para o campo. Inscrevi-me no site. Procurei por caches em Portugal, vamos lá a ver onde elas andam. Parece que uma “Alfa Romeu Abandonado” (GC1DA) estaria activa mas a verdade é que não me surgiu na busca. A cache Açoriana “Translant Chess Cache” (GC8EF9) já estava no local mas só seria submetida pelo owner uns meses depois de colocada. O resultado saiu completamente em branco, nem uma cache estava listada no nosso país. Mas que grande desilusão. Ainda pensei onde poderia ser interessante colocar uma cache, perto de Mogadouro, no topo de umas falésias na Serra de Zava, onde costumava ir escalar. Mas para quê, se depois ninguém ia procurar? Foi assim que rapidamente esqueci o geocaching.
Penso que em Abril de 2002 vejo uma reportagem na televisão em que um pequeno grupo de geocachers (Seria o zoom bee?) vai em busca da “The Bear Treasure” (GC4B0D). Como na altura estava a trabalhar no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, não muito longe, porque não ir em busca da minha primeira cache? 1 de Maio de 2002, três pessoas a caminho pelo meio do pinhal a seguir a seta. Mas, grande azelhice, não a encontrámos. Pensei que, com a publicidade televisiva, tivesse desaparecido. Mais uns tempos sem pensar em geocaching…
Foi em 24 de Agosto de 2002, durante uma caminhada de 40kms pela Arrábida, que resolvi procurar a “Visit to Frei Agostinho da Cruz” (GC45D6). Desta vez com pleno sucesso, mais de um ano depois de me ter inscrito, finalmente encontrei uma cache! Afinal isto é mesmo real 🙂 Entretanto, apenas com duas encontradas, ou seja, uma boa parte das que existiam na altura, resolvi dar o meu contributo com as minhas primeiras caches, a “The Treasure Island” (GC9F38) e a “Soft Water Over Hard Stone” (GC9F3D).
Esta era uma altura (2002/2004) em que praticamente todos os geocachers activos se conheciam (primeiro que conheci pessoalmente? Mantunes, em Mértola). Em que a vasta maioria das caches estavam em locais que ora requeriam uma caminhada, ora tinham a sua importância histórica. Em que as caches nunca estavam separadas por menos de 1km. Em que descobrir 5 caches num dia foi uma espécie de recorde nacional, no mesmo dia do primeiro CITO (CGHQH4). Em que as caches ficavam com FTFs adiados durante dias, semanas ou meses.
Em 2005 segui para a Dinamarca, em trabalho para Copenhaga. Foi aqui que pela primeira vez me deparei com uma realidade que em Portugal apenas começava a surgir. Uma cache a cada esquina, mesmo em locais sem interesse aparente. Pessoal a descobrir dezenas de caches por dia. A corrida pelo FTF. Mesmo assim, as caches nas zonas florestais, para onde costumava ir fazer BTT, continuavam a ter a minha atenção.
Entretanto nunca mais voltei a Portugal Continental, tendo vivido 2 anos na Dinamarca (2005/2006), 2 nos Açores (2007/2008) e 2 nos EUA (2009/2010). Perdi um pouco a noção de como tudo andava por “lá”, apenas fazendo algumas caches durante as férias. Mas dada a profusão de caches, a minha “estratégia” alterou-se. Já não vou a todas, escolho apenas as que condizem com o aspecto que me agrada no geocaching, o de fazer uma boa caminhada na natureza e descobrir novos locais. Selecciono com base na dificuldade, no que se vai dizendo acerca das melhores caches, no que vou apreendendo pelas descrições. Vou assim conseguindo recriar o geocaching do início da actividade, em que as caches estão espaçadas, exigem algum esforço e dão a conhecer um novo recanto. Simplesmente ignoro 90% do que vai sendo plantado. Felizmente os outros 10% continuam na minha lista, vou-a fazendo aos poucos, estando consciente que são mais as que surgem de novo e ainda me atraem que as que consigo fazer. 🙂
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