“Era pelos cerros velhos, ia por além. Vão lá os carros. Então ê andei trinta e seis anos nessa rebera!…Trinta e seis anos andei ê no contrabando. Isso é uma rebera malinha! Eram mais de mil tiros! Carabineros e guarda – fiscal, uns e outros.
Olhe, aqui de roda do monte tem aí uns vinte calvários…Pois! Cargas que perdi!
(…) Na minha presença mataram…você ouviu falar no Raposo? Mataram-no ali ao Moinho das Juntas!… (…) O guarda fez o tiro para ali e não matou mais porque não calharam. (…) Então não sabiam? Pois a gente passava por todo o lado! (…) Aí às juntas ajuntava-se o Margão com a Chança. E então vieram pelo cerro e a gente passava por baixo, eu ia passando com este cunhado que morreu, o Manéli… Passei o açude, pois ia assim por baixo e vejo (…) um carabinero a correr por cima, volto para trás, por cima do açude, se você visse os tiros, era só fogo, pá! Ê tenho aqui os sinais de uma bala, era de nôte, às quatro da manhã. Aqui passava-se munto. Além a Espanha, íamos a Valverde, Rubia, Lepes, Castelejo… Comecei aí aos 28.
(…) Levávamos tudo. Café. Assabão…Trazíamos açúcar. Era tudo. Os espanhóis não tinham nada!…Isso era despachado aqui de Santana.
(…) Aqui ganhava-se vinte escudos. Vinte para cá, quarenta! Íamos ali levar café à Mina da Isabel. Abalávamos daqui à boca da noite, mas nesse tempo íamos sempre a corta-mato, o caminho era raro fazer… (…) Quilómetros! Com trinta quilos! Vinte e tal léguas!… Então cheguei a trazer também cargas de ferro. Aqui compravam o ferro, pois!
(…) Passei tantas! Cheguei a estar das cruzes para lá oito dias sem comer, nem beber. Mamávamos o café e o açúcar, chupávamos…então não podíamos ir ao povo nem a parte nenhuma! (…) Entrava e saía de noite! Era uma vida triste!”
in "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas-Um Contributo para o seu Estudo"
(texto usado com autorização escrita do autor do livro, o Antropólogo Luís Maçarico)
Brevemente. Numa cache longe de si.
18 responses so far ↓
1 btrodrigues // Dec 21, 2005 at 18:10
sabendo de antemão do que se trata, gostava desde já de declarar que tou em pulgas…
2 Walrus // Dec 21, 2005 at 21:05
Rota do Contrabando? 😀
3 Walrus // Dec 21, 2005 at 23:43
…levanta lá a ponta do véu!
Quando é que temos cache? 😀
4 danieloliveira // Dec 22, 2005 at 08:01
….pois é! Já estou a prever cerca de 400 km para lá e cerca de 400 de volta a casa. Lá se vai o orçamento da gasolina. Entretanto pode ser que os Bin Ladens e os Bushes deste mundo se entendam e ela volte a baixar de preço.
5 2 Cotas // Dec 22, 2005 at 11:51
A roda ou a polvora?
6 bargao_henriques // Dec 22, 2005 at 13:47
Estava a ver que essa nunca mais saía da gaveta!
Já tenho planos traçados para daqui a 2 meses. Espero que ela se encaixe bem!!!
7 danieloliveira // Dec 22, 2005 at 22:06
Pois é…..ehehehehehehe!:)
8 zoom_bee // Dec 23, 2005 at 16:15
Mais uma longe do Porto!
9 clcortez // Dec 23, 2005 at 21:00
Tenho uma cache colocada à espera que o seu owner faça a sua página desde o dia 02 de Outubro a pouco mais de 10km de Santana de Cambas…a ver se fica feita a tempo!:)
10 MAntunes // Dec 23, 2005 at 21:55
"…levanta lá a ponta do véu!
Quando é que temos cache? "
Se a metereologia o permitir, 2ª feira, 26 de Dezembro de 2005.
Combinei, hoje mesmo, com o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Santana de Cambas encontrar-me com ele na JF às 09h00 de 2ª feira – Era o pormenor que me faltava acertar.
Esta cache necessitou de algum esforço de logística;
– obtive pré-aprovação do Garri (porque será uma multi-cache com pontos em Portugal e em Espanha e, isso poderia ser motivo para uma recusa de aprovação),
– obtive autorização para usar textos e links do autor do livro "Memórias do Contrabando" e,
– agora, obtive a marcação de uma reunião com o Presidente da Junta para me orientar melhor quanto aos percursos do contrabando e localização dos calvários (locais onde morreram contrabandistas ou onde perderam as suas cargas).
Espero fazer uma cache de que me orgulhe. Será uma cache para poucas visitas, eu sei, porque está num cantinho remoto de Portugal e terá um percurso demorado mas será uma cache para quem aprecia caminhadas.
Penso deixar prendas em todas as caches intermédias para o pessoal andar a "contrabandear" prendas em ambos os lados da fronteira. 😉
Aqui fica o link para o blog do autor do livro, o Antropólogo Luís Maçarico; Aguas do Sul (encontrei este link depois de já ter decidido fazer a cache e quando andava a documentar-me) e, o link para a notícia espanhola sobre a apresentação do livro (que vou comprar) Crónica, discurso y galería fotográfica de la presentación del Foro por la Memoria de Huelva en Portugal
O contrabando "de subsistencia" serviu não apenas esse fim mas também foi um veículo de ajuda entre as povoações fronteiriças, especialmente quando do lado espanhol as pessoas tiveram que fugir da fome e do regime Franquista.
11 danieloliveira // Dec 24, 2005 at 12:45
Não é que pode vir mesmo a calhar? Tenho ainda trabalho para mais um ano nas redondezas da Mina de S. Domingos. 🙂
12 bargao_henriques // Dec 24, 2005 at 13:29
Lá terei de programar uma nova expedição, desta vez ao Baixo Alentejo…
Creio que não será a próxima expedição, visto que primeiro tenho planos para uma transfronteiriça apara as bandas norte-alentejanas, lá para fins de Janeiro ou Fevereiro…
Mas fica já prometida uma expedição às caches da zona da Mina de S. Domingos e arredores! 😉
13 ricardorsilva // Dec 24, 2005 at 18:32
… mas não vai escapar!
Duas grandes dúvidas:
– Quando?
– A pé ou de bicicleta?
Lynx Pardinus / Ricardo R Silva
14 MAntunes // Dec 26, 2005 at 21:40
As "cargas" e a "mercadoria para contrabando" já estão prontas. 🙂
<center><img src="http://mantunes.planetaclix.pt/IMG_0114.JPG" alt="" border="0"></center>
Como esperado, fui falar com o Presidente da JF de Santana de Cambas. Expliquei-lhe o que é o Geocaching, comprei o livro e ele levou-me ao local onde está o "calvário" em melhor estado.
<center><img src="http://mantunes.planetaclix.pt/IMG_0133.JPG" alt="" border="0"></center>
Também me disse que a maior parte dos calvários já não existe e que, devido à barragem do Chança, os caminhos de atravessamento da ribeira, a Sul da Mina de S. Domingos, estavam todos inundados e era impossível atravessá-los sem ser de barco.
Indicou-me os locais mais a norte (Fonte do Cabril – Monte do Cabri – Casa de Carabineiros e a passagem da Volta Falsa). Foi aí que desenvolvi o percurso da multi-cache. 🙂
Espero que gostem.
15 SUp3rFM // Dec 26, 2005 at 23:37
Mais um excelente contribute MAntunes. Parabéns pelo teu empenho e feito! 🙂
16 MAntunes // Dec 29, 2005 at 16:20
Como já devem ter reparado, a cache já está activa; Os Calvários.
No entanto, uma enxurrada de disparates meus atirou com a "carga" para um local distante da margem do Rio Chança… já está corrigido. 🙂
Estou a ler o livro nas calmas e, quando o acabar, vou colocá-lo na Mantune´s Book Box que anda um pouco esquecida (que pouca vergonha de publicidade…)
17 Torgut // Jan 2, 2006 at 23:06
Lynx Pardinus, esta cache de bicicleta não calha nada. Primeiro porque tens que atravessar o rio, segundo porque o piso em muitas partes não se coaduna, terceiro porque o percurso é demasiado curto. Não te metas nisso.
MAntunes, por acaso estive para fazer a Book Box no dia de Natal, quando fiz a Albergaria, mas o tempo estava mesmo bastante mau e desistir. Bota lá esse livro que vou lá buscar logo.
18 ricardorsilva // Jan 3, 2006 at 22:39
Depois de tanto aviso (obrigado MAntunes e Torgut), parece que a vou fazer mesmo ´à la pata´…
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