Bem… fui intimado a reproduzir aqui a história da caçada à cache “Homem das Cavernas”…
Ainda argumentei que não a tinhamos abordado como era sugerido (rappel e escalada) e que outros já lá foram antes e também não tinham contado a sua história aqui e eu não queria dar destaque ao meu log e …bláblábla…
Contra-argumentaram com vivacidade e persistência e eu, antes que levasse com uma Francesinha na cabeça, aceitei logo a sugestão!
Para não ser “mais do mesmo” revi o texto e adicionei alguns pormenores que me tinham escapado no meu log de ontem.
Assim;
O troglodita…
(by Lynx)
Saímos de Lisboa por volta das 09h20, após enviar msg. ao Claudio a dizer que íamos sair e seguimos em bom ritmo até à coordenadas propostas para estacionamento. Pelo caminho, aproveitei para ir mostrando o CoPilot ao Ricardo apesar de saber o caminho de cor. Aproveitámos também para pôr a conversa em dia sobre os últimos acontecimentos no geocaching nacional e … fico por aqui. 😉
Também fomos falando de outros possíveis projectos para o dia, tal como a tentativa de visitar a cache do HDV no alto da Serra de Aire. Iria depender do tempo, da metereologia e da nossa disposição mas descrevi-lhe a cache de modo a transmitir-lhe o meu entusiasmo em tentar encontrá-la.
Chegados ao local proposto para estacionamento, verifiquei a área no Ozi e levámos o carro um pouco mais adiante para não ficar visível da estrada principal.
Aí e como o dia estava a ficar nublado (durante a viagem tinha estado bom tempo e prometido melhor ainda) mas com um misto de calor e humidade, começámos os preparativos para uma cache que, sabíamos, necessitava de ser encarada com respeito e tempo. Nos preparativos estavam incluídas mudas de roupa seca, que ficaram no carro. Eu levei umas sandálias num saco e roupa inpermeável dentro da mochila. Bastão, água, barras de energia, almoço e toda a parafernália de gadgets do geocachng devidamente acomodados na mochila. Como éramos só dois, não precisávamos dos PMRs. Fiz o telefonema à Mila a dizer que ia ficar sem rede durante umas 6 horas e telefonámos ao Cláudio, tendo ele confirmado que não vinha. Pedimos para ficar de sobreaviso e, se não telefonássemos até às 17h00, “que nos fosse lá buscar” ;-).
Eram cerca das 11h35 quando começámos a andar, afastando-nos do carro.
Fomos pelo caminho que já tinha percorrido com o Filipe da outra vez, apreciando a floresta cerrada e humida ao longo do curso de áqua e com a vegetação envolta em musgo – uma verdadeira floresta cambodjana. Quando chegámos ao caminho que desvia para a direita, fomos lá espreitar o topo da famosa descida de rappel.
Vimos, apreciámos e arrepiámo-nos com tal desafio. Também conseguimos ver o equipamento colocado para prender cordas e ganchos. Tentámos adivinhar possíveis locais alternativos de descida mas concluímos que o caminho alternativo referido na cache devia ser aquele que eu tinha percorrido com o meu filho, uns meses atrás. Tirámos fotos do alto e seguimos pelo caminho de volta ao curso de água para depois virar à direita, para o rio e seguir o nosso palpite.
Mostrei ao Ricardo o local onde tinha desistido da outra vez, estudámos as hipóteses, sabendo a localização do algar e atacámos os arbustos, descendo por cima dos rochedos calcários envoltos por silvas e outros arbustos cheios de mau humor.
Facilmente chegámos à boca do algar e começámos a procurar a 2ª micro cache que deu alguma luta mas o Ricardo acabou por encontrá-la enquanto eu encontrava um casaco laranja e outros lixos.
Fomos então até dentro da base do algar e ensaiámos umas subidas só para “tirar as medidas”, reconhecendo que aquilo não é para nós mas admitindo que aquele local já merecia, só por si, uma cache.
Fotos tiradas (que acabaram por sair quase todas mal – estávamos a tremer?) e atacámos o caminho junto á escarpa. Primeiras dificuldades vencidas com alguma adrenalina porque o piso estava um pouco húmido e as solas das nossas botas já acumulavam lama e estavam escorregadias. E aqueles precipícios cobertos de silvas mesmo à nossa beira pareciam intimidadores…
Mas lá seguimos cheios de vontade, vencendo os desafios com cuidado e sempre agarrados à parede e com o corpo sempre inclinado contra ela de modo a que controlássemos o nosso centro gravitacional.
Até que chegámos a um local onde a parede da escarpa fazia uma “barriga” e, obrigatoriamente, o ponto de equilíbrio ficava fora do trilho da escarpa. Ensaiámos diversas abordagens mas em todas elas ficávamos com a maior parte do centro de gravidade do corpo fora da segurança do chão do trilho (e as mochilas às costas). Como já tinha choviscado um pouco e estávamos menos seguros da capacidade de aderência do calçado e das mãos, decidimos desistir do trilho da escarpa e voltar um pouco para trás até um ponto onde pudéssemos descer ao rio. Por esta altura já não se distinguia a côr das caças do Lynx; era um misto de molhado e lamacento…
Chegados ao rio, depois de patinar por uma encosta de terra, folhas e silvas, foi altura de confirmar que me tinha preparado bem para esta caçada; despi as calças de ganga e acomodei-as num saco de plástico dentro da mochila, descalcei as botas e as meias e calcei as sandálias. Depois, aconcheguei os tornozelos com as polainas, só para me proteger de algum arranhão em alguma pedra, raiz ou lixo no fundo do rio, e vesti as calças do fato impermeável.
E atirámo-nos ao rio.
Eu ia à frente, com o bastão a escolher o melhor percurso e nunca a água passou muito acima dos joelhos – válá… mantivemos as cuecas secas… 😉
Passados uns 400 metros (calculo mental) começámos a tentar adivinhar o local da gruta e a procurar um ponto na margem direita para subir e iniciar a escalada em direcção à mesma.
Ligar o GPSr do Lynx, fazer uns calculos em relação à latitude, sabendo que a longitude está errada (a cache “aparece” na margem contrária àquela em que realmente está) e lá descobrimos local na margem para sair do rio. O facto de se terem notado vestígios de pegadas recentes encheu-nos de esperança na correcção dos nosso cálculos mas isso iria ser desmentido cerca de uma hora depois…
Descalcei as sandálias e calcei as botas, sem meias, e começámos a subida pelo trilho que nos parecia mais óbvio e que continuava a apresentar vestígios de pegadas recentes. Subimos, subimos, subimos até que a certa altura, e depois de termos tido várias indecisões quanto a opções de percuros mas entusiasmados porque aqui e ali íamos reconhecendo sinais recentes, chegámos a um local que estava literalmente barrado por carrascos em todas as direcções. Como não se tinha leitura de GPSr e andávamos à cerca de meia hora pelo meio de mato, numa encosta íngreme, lamacenta e em que cada metro era feito à custa de muita luta para libertar a roupa, os cabelos e as mochilas para avançarmos, decicimos parar numa “clareira” onde retemperámos as forças com barras de energia, chocolate e água, verificámos que continuávamos a não ter rede GSM e lá conseguimos ter uns poucos satélites para verificarmos no Ozi de que, descontando a questão da longitude, estávamos numa cota muito acima da gruta. Conseguíamos ver o rio lá ao fundo e calculámos que estaríamos a cerca de 50 metros acima dele… Eram cerca de 14h00.
Decidimos então voltar para trás e encontrar um trilho, numa cota mais baixa, que nos levasse para norte. Encontrámos algo parecido mais abaixo mas depois de lutarmos mais uns bons minutos com o mato, chegámos a um local sem progressão e continuávamos muito acima da cota que tinhamos lido num dos logs anteriores.
Vai de voltar para trás novamente, descer agora até ao nível do rio e tentar uma subida que tinhamos visto inicialmente mas que tinha parecido difícil. Tinha que ser aquela…
Subi-a com muita dificuldade, porque metade das pedras onde colocava a mão moviam-se logo no meio da lama mas lá consegui chegar ao patamar de cima. Como a subida parecia muito difícil para o Lynx, progredi um pouco para ver se o caminho prometia e como parecia que sim, voltei para trás para animar o Lynx a subir aquele obstáculo dando-lhe até a ponta do bastão para servir de corda. Bem, não serviu muito porque a certa altura o meu bastão dividiu-se em dois; metade para o Lynx e metade para mim. Como estávamos decididos a tudo, ele agarrou-se à minha metade do meu bastão (nada de bocas… esta caçada foi algo muito sério) e assim lá o consegui puxar para cima.
Seguimos o trilho junto à falésia, a cerca de 10 metros acima do nível do rio, sempre em direcção a norte ou, se preferirem, em direcção contrária à direcção da água do rio. Até que começámos a ver que já estávamos a andar muito para norte e começámos a desconfiar que a gruta já estaria a sul da nossa localização mas numa cota mais alta…
Começámos então a procurar meio de subir até outro trilho encostado à falésia mas numa cota superior. Os pingos de chuva já eram mais frequentes e os arbustos já molhavam mais mas lá se descobriu um caminho ascendente, com ligeira orientação a norte e que, a certa altura nos revelou o que parecia ser a entrada de uma gruta. Em poucos minutos tal visão, que nos encheu de força anímica, levou-nos até à entrada da gruta que era mesmo o nosso destino. Chegámos ás 15h00. Pelos nosso cálculos, a entrada da gruta está a cerca de 20 metros acima do nível do rio.
Procurámos a cache, que encontrei sem grandes dificuldades e começámos os logs ao mesmo tempo que íamos desembalando o almoço. Foi então que coemçou a chover abundantemente…
Abrigámos-nos dentro da gruta, almoçámos e visitámo-la com alguma atenção. Embrenhei-me pelo seu interior e descobri um ponto onde a luz do dia irrompe na escuridão da mesma vinda do alto, provavelmente do topo da montanha. Passou por mim um morcego e comentei com o Lynx que nós tinhamos gastado cerca de 3 horas e tal para ali chegar mas o Claudio irá, certamente, gastar 3 horas a explorar todos os buraquinhos da gruta. Eu, que tinha lanterna comigo, ainda andei a ver que hà várias salas que se alinham em sentido ascentente com orientação a sudoeste e que, depois, hà uma passagem à direita, para noroeste que que vai ligar à sala de entrada. Foi nessa passagem que vi a entrada de luz natural e passou por mim o morcego.
Acabados de almoçar, vimos as horas e concluímos que tinhamos 1h 40 minutos antes de o Claudio chamar a Protecção Civil para irem procurar-nos… 😉
Começámos inicialmente pelo que nos pareceu o percurso mais fácil mas, mais abaixo, tivemos que voltar a subir e decidimos seguir por onde viémos mas, desta vez não até ao local onde tinha sido muito difícil subir porque, num local intermédio, encontrámos uma nesga nas escarpas e silvas que nos deixava descer até ao rio.
Chegados lá abaixo, vai de trocar as botas pelas sandálias e começar a subir o por ele acima, agora com um caudal maior porque não parára de chover generosamente. Mas continuámos com as cuecas secas. 😉
Após os 400 metros, lá regressàmos à margem, não sem antes fazer um pequeno trashout curioso nas águas do rio; uma caixa de plástico com um …bife! Sim, ainda bem cheiroso a carne fresca. Deve ter escapado de um pic-nic recente e levado pelo caudal até ali (nota: levar grelhador na próxima vez).
Na margem, lá fiz a troca das sandálias pelas botas novamente e começámos a subir em direcção ao trilho “oficial” que nos levava à entrada na base do algar. A progressão junto à escarpa foi agora mais difícil e stressante porque estávamos mais cansados e o chão e as botas mais molhados e lamacentos. E o precipício ali mesmo à beira, escondido debaixo das silvas, agora à nossa direita…
Mas lá chegámos ao fundo do algar onde apanhei mais algum lixo mas deixei o casaco laranja porque não tinha espaço para ele e continuámos o nosso regresso, agora sem história de maior excepto que, ao passarmos por debaixo dos arbustos e tocando neles, éramos brindados com “litros” de água em cima de nós.
50 minutos após sair da gruta, estávamos junto ao carro onde fiz os telefonemas à Mila e ao Claudio e respondi a um SMS do btrodrigues (obrigado pela atenção. 🙂 )
Depois, enquanto se se comia mais alguma coisa, foi tempo de vestir roupa sequinha e com côr reconhecível e começarmos a viagem regresso.
Foi sem dúvida uma cache que me deu muita satisfação fazer assim como o vencer das dificuldades que nos surgiram.
Parabéns João Cardoso e muito obrigado. 🙂
Muito obrigado Ricardo “Lynx Pardinus” pela excelente companhia. Deixámos a pele e os cabelos no meio do mato mas conseguimos! 😉
Depois ainda fomos ao aqueducto dos Pegões para eu fazer a mudança de local da cache (recolocando-a no local original) mas;
– chovia abundantemente e eu já não tinha mais roupa seca
– estava um carro com pessoas mesmo junto ao muro do aqueducto e virado para o local da cache e
– andava, mesmo junto ao local dela, um homem em passo muito vagaroso a inspecionar o local (talvez à procura de caracóis?) e que até podia ser o dono da mata onde está a cache (e que eu julgara ser mata nacional).
Como terei que ir verificar a cache do Castelo de Bode, decidimos que afinal era melhor regressarmos a Lisboa, desistindo também da Serra de Aire. O dia tinha sido cansativo mas reconfortante e tinhamos a sensação de que a cache que encontráramos e as experiências que viveramos tornavam o dia, por si só, uma jornada positiva. Exactamente um dos temas de conversa da nossa viagem de manhã; hà caches que valem o dia por si só. 🙂
No regresso, a distração foi o ver o Route66 a dar-nos instruções de regresso e, porque havia qualquer acidente na A23, tivémos que desviar para Santarém e entrar na A1 perto de Aveiras. Foi um fartote de rir com a “moça” do Route66 a querer fazer-nos voltar para trás. Aproveitei para ir enumerando as diferenças entre os dois programas de auto-routing que conheço manifestar que continuo fiel ao CoPilot apesar dos pormenores simpáticos do Route66.
Fim.
6 responses so far ↓
1 Cachapim // Sep 26, 2006 at 12:52
Estou para aqui roído de inveja por não vos ter feito companhia! A foto parece colocar-te em qualquer cenário adequado a um filme sobre o Vietname. Obrigado por partilhares connosco a história e as fotos desta aventura! Pena o erro 18 (?) da tua máquina fotográfica, aposto que ficaram muitas fotos ótpimas por tirar.
Agora não descanso enquanto não montar uma expedição nortenha ao Homem das Cavernas.
2 lopesco // Sep 26, 2006 at 13:25
Muito bom…
3 Cachapim // Sep 26, 2006 at 16:57
Manel, na tua opinião, há alguma possibilidade de fazer esta cache com caiaques ou canoas? Qual a distância do ponto de estacionamento ao rio? Achas que dá para levar as embarcações até à água? E no ponto de desembarque, antes da subida, dá para amarrar ou retirar o caiaque?
4 MAntunes // Sep 26, 2006 at 17:46
Primeiro, o percurso que fizemos no rio foi de cerca de 400m para cada lado – muito pouco para justificar levar os barquitos às costas.
Segundo, os locais de embarque/desembarque são complicados, embora tenham lá espaço para esconder o material no meio dos arbustos.
Façam a cache pelo percurso sugerido pelo owner, junto à falésia e muito agarradinhos a ela se estiver o tempo e o piso seco ou façam-no pelo rio se tiverem as condições que nós apanhámos. 🙂
5 touperdido // Oct 11, 2006 at 23:34
Sem querer baralhar a coisa… Já fui lá tentar a minha sorte, mas achei o caminho pela margem um bocadinho "escabroso" e é tal e qual como o descrevem, tive q recorrer á ida pelo rio, apesar de ter ido parar á margem contrária..
Este fds vou lá de barco, o rio tem água suficiente para andar de sit-on-top, se bem quem algumas zonas talvez tenha q ir a pé, de qualquer forma as águas são medicinais, pode ser que fique mais bonito lol
Rui Duque
6 pirilampo // Oct 14, 2006 at 21:41
Mesmo com previsão de borrasca, lá vou eu mais uns malucos, se chover muito não há problema ficamos molhados em baixo e em cima.
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