É mentira.
É mentira.
É mentira sim senhor.
Eu nunca roubei um beijo, que m´o deu foi o meu amor!
Este sábado, a Sábado publicou um artigo onde entre outras coisas se afirmava meio indirectamente de que cerca de 53% dos portugueses mentiam. Aldrabavam, ou mais prosaicamente douravam a pílula.
Não interessa muito se era por omissão, a tal opção de nunca contar uma mentira mas contar só a parte da verdade que nos dá jeito, se era mesmo mater o carrão, entrar a pés juntos. O que me ralou foi mesmo os 53%. Ser 50% ou 53% a coisa aponta mesmo para metade.
O que eu acho mais complicado é afirmar que “X por cento mentem”. A bem dizer, eu prego umas petas volta e meia, coisa em que, se bem percebi, sou acompanhado por todos os que conheço. Por isso, das duas uma, ou só conheço mentirosos ou isto não esta muito bem contado. Assim de repente, parece-me mais uma questão de dar um acerto na verdade sempre que der jeito.
Voltando ao início, a questão de metade dos portugueses mentir poderá ser, se calhar, os portugueses dizem mentiras em metade das ocasiões. Mas mesmo assim, venha o diabo e escolha. Nem a possibilidade de a definição de mentira poder ajudar engolir esta realidade me ajuda. Deixem-se lá de coisas, mentira é mentira, mesmo que seja só um jeitinho na verdade. E o povo português é conhecido por ser engenhoso, não jeitoso.
Não pensem que esta conversa toda é esotérica. Não, é mesmo prática, de senso comum.
Vejam lá: eu nasci há mais ou menos 50 anos numa aldeia da serra da Lousã. E vim para Lisboa com seis meses. Desde essa altura tenho vivido em Lisboa ou no seu distrito. Sempre. Fora as férias e os fins-de-semana. Sou Alfacinha ou não? Em termos estatísticos sou 99,5% de Lisboa e 0,5% beirão. Mas se eu disser que sou alfacinha, rapidamente me acham aldrabão. Na realidade nasci nas Beiras. Mas se disser que sou Beirão a aldrabice é ainda maior, eu nem 7 meses, tops, tenho, da Pampilhosa! Raios.
Isto partindo do principio que alguém quer saber. Se nem eu me preocupei muito até hoje, que é que isso interessa? Aqui para nós, a minha naturalidade nada, mas aplicar o índice nacional de aldrabice ao geocaching deixa-me com os cabelos em pé. Metade do que para aqui se diz, ou conta, é, colocando a questão com pezinhos de lá, um pouco parco de veracidade? Êhpáh…
Estou a ficar meio careca, pelo que pôr-me a coçar na cabeça na tentativa de deslindar este aparente contra-senso não é muito boa ideia. Nem sequer é, sei lá… realista?
Se disser que faço as caches de 4×4, e não for verdade. Algumas terem que ser mesmo á pata, posso contar com ingresso garantido no pelotão dos mentirosos?
E ao afirmar que miro as dicas, os logs anteriores, os spoilers, da próxima vez que achar aquela cachezita sem ter tempo de prevaricar, tenho lugar garantido no Inferno?
E se jurar que alem de adepto, fui um dos inventores do helpdesk, da próxima vez que for apanhado a telefonar comprometedoramente, alguém se admira?
E se for ao contrário?
Mas voltando ao artigo dos 53%, dos 50% por uma questão de arredondamentos: metades, mais prosaicamente. Não andamos todos a contar só meias verdades, a enganar a torto e a direito, a engrupir em velocidade de cruzeiro? Digo eu, que depois de ter escrito isto, fico na dúvida ou pelo que temos que olhar para estas particularidades nacionais de uma forma mais “aberta” (?). O que é mentira? E o que é uma verdade?
Provavelmente também, não tanto o que se diz, mas também a forma do que se diz. Já todos nos deparamos com aquelas afirmações que indicam explicitamente que a coisa não foi bem assim e mesmo assim não são mentiras. É possível que seja mais frequente do que o que quereríamos possível, que apenas saibamos, nos digam, nos transmitam, uma das constituintes da “verdade” e com isso cheguemos ao lado errado da situação. Podemos até nem vir a descobrir a “realidade”, seja ou não importante. E não falo das situações propositadas, daquelas em fomos levados ao logro, mas das que nos foram mal transmitidas, onde fortuitamente foram retiradas peças mais ou menos importantes. Mentiram-nos? E se nós passarmos essa informação em frente, somos mentirosos? Ficamos incluídos do lado errado dos 50%? Complicado…
50%? Repararam bem? Metade do que ouviram desde que nasceram até hoje não foi bem assim! Se tiveram sorte, a coisa dividiu-se em diasim dianão. Ou em manhãs e tardes. Frase sim, frase a mais!
Mas coisa nem fica por aqui, se alguns se acham no direito de afirmar alto e bom som que “EU NÃO”, então a coisa fica mais concentrada. Maltinha por ai há, que não dá uma para a caixa. Que não diz duas seguidas de jeito. Pessoal hardcore do inventanço.
Coisa que eu procurei afinadamente no artigo do sábado foi a existência de qualquer rotativo colorido que do alto das cabecinhas mais propensas a geração expontanêa avisasse os incautos da entrada em área sujeita a infecção. Nada! Para lá de umas longínquas referencias a sinais dissimulados de evidências fisiológicas da prática da aldrabice, o que em pessoal com nível de treino comum é indicador de perfeita distracção, não há ajuda nenhuma possível. Não damos mesmo pela coisa. Nada de nada. Descalços mesmo.
Já não falo dos embrulhos. Dos bons dos mocinhos, (e mocinhas, porque me recuso a considerar sequer a hipótese da coisa estar ligada ao sexo…), que a uma boa imaginação juntam retórica, persuasão, dicionários ou efeitos especiais. Então nesse caso é que a boa da verdade contada despretensiosamente na laracha diária desaparece, submergida pela ficção, acabando atirada para o lixo pela falta de acompanhamento decente. E que até nem era mentira.
Quanto mais penso nisso mais fico em pânico. Não só metade, 50%, do que ouvimos é mentira, como ainda nos baralhamos na identificação.
Há volta a dar-lhe? De um lado chove, do outro troveja! É por essas e por outras que eu não me estico muito, e quando a língua me leva em velocidade superior ao previsto, me reservo, alinho pela minha faixa e tento não começar logo a inventar. Haja thews, nem sempre consigo.
Lembra-me a anedota do outro que quando ouviu no rádio que circulava um carro em contra mão na ponte 25 de Abril, abriu os olhos de espanto e berrou possesso: Um? São todos!
5 responses so far ↓
1 ricardorsilva // Mar 19, 2007 at 19:00
Eu acabei de aterrar aqui (uma pessoa passa uns diazinhos fora e já nem percebe lá muito bem o que se escreve), mas tenho a afirmar em minha defesa que, tudo aquilo que digo profissionalmente aos consumidores, sou obrigado a ter prova científica do mesmo.
Não tenho culpa (por acaso até tenho…) que vocês tenham sobretudo contacto com uma faceta pessoal!!!
Lynx Pardinus
2 prodrive // Mar 19, 2007 at 19:30
Bem… isto está a começar a descambar para o paranormal… mas cá vai.
Admito que minto em alguns logs. Nem todas as caches nos enchem as medidas, mas se elas lá estão foi porque alguém se deu ao trabalho de as colocar para nos dar a conhecer determinado local. Como não temos nenhuma cache escondida, e somos os parasitas portugueses deste jogo, respeito qualquer owner pelo seu esforço e iniciativa e como tal evito qualquer comentário depreciativo ou insultuoso. Não é bem uma mentira, será mais uma omissão. Às vezes limito-me a comentar "Sítio giro…". Pelo sim pelo não, quando virem este comentário… desconfiem.
Quanto ao resto, já fiz caches em 4×4, 2×4, de bicicleta, a pé, a trepar e algumas de gatas. Sinceramente não sei qual é heroísmo de usar ou deixar de usar qualquer um destes meios de locomoção. Não vejo como alguém possa mentir sobre este tema… Juro, e tenho testemunhas que quando escalei o Sofá de Bucelas, não fui de jipe…
Em relação às hints, uso-as sempre que as há. Acho que todas as caches deveriam ter hint. Posso não ler o enunciado da cache e ignorar que foi naquele sítio que nasceu Jesus Cristo, mas a hint tenho que a imprimir. Não é mentira, juro!
Helpdesk já usei várias vezes (considero que poucas, atendendo aos founds que temos). Talvez 7 vezes em 337 founds + 42 DNF´s. Nessas, admito que quem ficou a perder, fomos nós! Perdemos o prazer da descoberta, mas enfim, não me arrependo. Em todos os casos, mencionei o helpdesk no log!!
Também admito que tenhamos pincelado alguns logs com floreados, mas apenas na perspectiva de lhes dar alguma côr para não ficarem tão cinzentos. Basicamente tudo o que lá está escrito aconteceu mesmo, e basicamente da forma que está narrado. As sensações transmitidas, basicamente foram as sentidas (é difícil quantificá-las), e talvez em algum caso tenha o usado o adjectivo "bastante", quando realmente a dose certa seria apenas "muito". Mentirosos por isso?? OK! Crucifiquem-me…
Prodrive
3 almeidara // Mar 20, 2007 at 15:49
Um homem diz que está a mentir. O que ele diz é verdade ou mentira?
4 vsergio // Mar 20, 2007 at 17:03
Os meus logs são verdadeiros. São mesmo.
5 Anonymous // Mar 25, 2007 at 14:41
I cannot tell a lie 🙂
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