Nem tanto ao mar…

2 Cotas - 2003/10/29

Quem vos ouvir parece que isto é só barracas. Para vosso mal, não é. A coisa ainda vai fortemente positiva.

Já agora também vos digo como é que se faz. Primeiro põem de parte as micros, a coisa já é suficientemente arrevesada sem estar a complicar desnecessariamente. Idem para as multis. Seguidamente escolhem o tipo mais normaleco que por cá hája. Esse mesmo, o que leva o manual do GPS debaixo do outro braço. É garantido que não se põe a inventar com as coordenadas, põe a cache em lugar lógico, não arma ao pingarelho e, mais importante, descreve a coisa benzinho e dá uma mãozinha nas dicas.
Com estes cuidados já devem ter alinhavado uma mão cheia e já lhes começam a conhecer as manhas. Por esta altura os nomes já começam a ligar-se com as avantesmices. Pelo autor e pela descrição já dá para sentir de que lado sopra o vento. Como já devem ter-se apercebido, ninguém vos põe a salvo de uma ou outra canelada, mas levem a coisa na desportiva.
Há aqui uma questão meio complicada pelo meio. Chama-se companhia. Umas vezes dá pelo nome de “maria”, outra “putos” ou ainda “melgas”, há também quem lhes chame “empatas”. Podem não ajudar muito, mas contribuem decididamente para o ruído ambiente. Se conseguirem juntar tudo, então estão garantidos. Toda a gente num raio de 20 km saberá que andam por perto, só mesmo uma cache marada de todo é que vai resistir. Haverá mesmo algumas que desistem só de vos ouvir chegar. Há que substitua o pacote pelo o cachorro, mas ou tem vários para ir substituindo ou então é sol de pouca dura… Tem é uma vantagem, com o cachorro mandam vocês, sem o cachorro…, bem…, quem manda não sei, mas quem não manda sei eu muito bem. Isto também depende da marca do cachorro, porque com alguns nem assim…
Depois de resolverem todas esta variáveis podem começar a estender-se. Mais propriamente ao comprido e a fazer figuras tristes. Tem o mundo do Geocaching a vossa frente! E o resto da malta a rir-se de vocês.

Isto tudo para vos dizer que um dia destes, já nem me lembro bem quando, estava a voltar para casa de um fim de semana bem passado e resolvi estragar tudo. Montei o GPS no carro e saquei do Dossier. Barraca…
Tomei como garantido que dávamos com o lugar e convenci a malta a ir á procura da Bear treasure, Urso! Devia era ter ido á procura era da Beer treasure.
Vira daqui, vira dali, agora por baixo, depois por cima . A meio do caminho, já a alminha que ia ao meu lado tinha desistido de dar palpites, quando aparece uma complicação. A um cantinho do ecrã do GPS aparecem umas malfadadas letrinhas Cêgênãsêquê.  Esvoaçam micas, folhas, pedaços de papel e aparece uma vozinha que do meio da confusão diz: “é a cache do convento ofeda stroques”. Numas vesperas de segunda, perdido no meio do Montejunto, já surdo do ouvido direito e com o sol nas ventas? O phothaquê? Razão tem o outro que manda o cão primeiro!
È para ali? Vamos! É assim que querem? Vamos! Com mais molho? Vamos! A partir daí até o GPS desistiu. O caminho que indicava era em caracol! Juro. Às voltinhas. De voltinha em voltinha até á voltinha final. Salvo seja.

Demos com o parque de estacionamento. Olhamos para o edifício. Olhamos uns para os outros. Olhamos para o edifício outra vez. Bonito. Não o edifício, mas o sarilho em nos metemos. Já lá foram?
Confesso que peguei no papelucho e traduzi as dicas á pressa, não estava muito disposto a ser noticia de tele-jornal. Enquanto lutava afanosamente com as letras, o pessoal desapareceu. Pela primeira vez na vida vi-os andar na esgalha. Um deles, depois de ter levado com as bocas do papagaio nos Olhos de Agua, saltou para a linha do comboio e desatou á pedrada aos pardais não fossem da família. Haviam de ver!
Aparece uma das “Marias” com um saquelho amarelado nas mãos a refilar “deixam lixo em todo o lado, porcos”… Só não levou um tabefe porque não calhou, afinal aquela era razão porque todos lá tínhamos ido. Ainda não tinha desatado a porcaria do nó já estavam todos aos gritos. “ põe lá isso”, “já descobriste?”, “ainda temos que ir á procura da outra”, “diz aqui que temos que andar 300 metros…”, “agora andas aos caixotes?” Já pensei em vender o GPS. Só não vendo o pessoal porque não cabem nos ecopontos…

Depois da cena dos porta chaves, volta tudo para dentro do carro, não sem antes se perderem. Sinceramente! 20 metros de caminho! Caraças!

Fomos andando para o pinhal de Leiria. Bonito caminho, calmo e descansado. Como a labuta da procura foi muita, ressonavam em contraponto, cada um para seu lado. Acordei-os o pior que pude, armei dois piões em cima da areia. Ainda hoje andam a verificar se as pernas e os braços são do mesmo modelo. Eu cá acho que não, mas já antes era assim.

Acordadinhos de fresco, sete da noite, longe do ponto zero, pressa nem vê-la. Só tiveram pressa para me azucrinar o juízo em Seiça. Sheiça! Ainda por cima deu-lhes o cheiro da praia. Não havia pinheiro rançoso nenhum que lhes desse a volta para o lado certo, sempre para o lado contrario, sempre prá praia. Não há uma cache onde alguém deixe um chicote? Chegamos lá e sentam-se. Juro. Tirei fotos e tudo. Arrefinfam o coiso num sitio qualquer e dizem-me: “já encontramos a outra, esta procuras tu!”. Não posso contar com ajuda, tá visto. Quem me valeu foi o TóBê, com ar de “quando não podes vencer junta-te a elas” amersenda-se num galho podre e bate com o costado no chão. Quando regressa á costumeira posição anormal, vai á procura de um sitio melhor e regressa todo contente com um banco com uma asa. Há males que vem por bem, toma que é para aprenderes.

Abrimos o taparuere… fechamos o taparuere. Fiquei com pena. Deixa-lo vazio para os próximos era um bocado forte, mas sempre era preferível a enche-lo com areia como foi sugerido. Convém que os próximos deixem muitas coisas porque acho que até o lápis dos logs levou sumiço. Sanguessugas! Nem porta-chaves!

Ainda uns estavam a empurrar a caixa a pontapé para o meio das silvas, já as outras alminhas iam a correr para o mar. Em vez de irem pelo mesmo caminho, resolveram ir pela praia. 9 horas, frio, perdidos, humidade, nevoeiro, perdidos, sapatos cheios de areia, sede, perdidos, fome, cansados, perdidos. O que vale é que já estamos habituados, não há cache nenhuma onde não nos perca-mos! Mais perdidela, menos perdidela…, báhhh, que é isso? Ainda dizem que isto é um jogo de orientação.

Mas não lhes fica de emenda. Demoram uma semanita a meter-se noutra. Apostam?

2 responses so far ↓

  • 1 cds_t2 // Oct 29, 2003 at 22:53

    Diamantino,embora esteja a falsear as estatísticas, já é a quarta vez que leio este artigo, não consegui resistir a dar-te uma boca (vulgo emitir um comentário); "Tu és imperdível…. mas tens que passar a levar um canito amestrado".
    Ao MAntunes, os meus agradecimentos por ter convencido o Diamantino a escrever as suas histórias aqui no site da lusa gente.
    Acho que "tema" para o próximo jantar mensal, não vai faltar.
    Um abraço e até lá (isto se nos entretantos não publicares mais nenhum artigo).
    Carlos David

  • 2 Lobo Astuto // Oct 30, 2003 at 09:31

    Simplesmente fenomenal! 🙂

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