Era o momento crucial e o objectivo que definia o sucesso pessoal daquela viagem louca de 900Km. Estaria eu preparado para dar um salto tão grande na imensidão?
O vento empurrava-me gentilmente em direcção ao precipício, as cordeletes eram curtas, parecia que tudo apontava para a não concretização do meu sonho. Terei dado o salto? Essa resposta será respondida depois agora vou voltar ao ponto onde tudo começou.
A idealização de embarcar e de querer fazer este percurso para mim nasceu após o convite e a primeira vez que calcorreei a já tão afamada e traiçoeira, linha do douro e “ruta de los tuneles”. Era um percurso que já andava na minha imaginação muito antes de ter explorado o geocaching, mas só enquanto geocacher tive oportunidade de conhecer e acompanhar quem me conduzisse nessa aventura. Era muito mais do que esperava e desde esse momento nasceu aquele bichinho bem presente em todos nós, uns chamam-lhe sonho, outros a razão de viver, para mim é um gosto e uma forma de aumentar os níveis de adrenalina. O meu bichinho pessoal virou-se para o alcançar de metas mais radicais, digamos que passei a ansiar sempre aquela próxima aventura. Após esta caminhada foi-me enviado um vídeo do até então por mim desconhecido Camiño del Rey e foi amor à primeira vista, um bocado cliché eu sei mas foi a mais pura das verdades.
O que faltava?
Uma data?
O material?
A preparação?
Sim todas elas falhavam, mas aquilo que realmente faltava era aquele alguém que me acompanha-se a partilha-se comigo toda esta aventura. Aquele alguém que nos momentos de pânico me desse a mão e me ajudasse a transpor o obstáculo.
No início deste ano, cerca de 1 ano e meio depois de ter-me proposto esse desafio, tinha finalmente a data e a equipa. A data estava destinada para o fim-de-semana prolongado de 10 de Junho a 13 de Junho: 4 dias para chegar lá, fazer o percurso e voltar nas calmas com algumas caches pelo caminho.
Faltavam 6 meses e estes eram os suficientes para recolher toda a informação necessária a tal expedição, o material esse estava relativamente garantido, um telefonema e teríamos o material pelo tempo necessário e a custo zero – é sempre bom ter amigos assim :P.
Dia 10, 8:00
Estávamos no ponto de encontro e preparados para dar início à viagem. Pela frente tínhamos umas boas 11 horas de caminho.
19:00 (20:00 espanholas),
– finalmente chegávamos ao ponto de dormida, camping El chorro, situado a uns meros 2 kms do início do Camiño del Rey. Uma boa noite de sono era essencial.
Ainda antes de adormecer tivemos oportunidade de conhecer escaladores portugueses, que descaradamente nos chamaram malucos por irmos percorrer o caminho. Seria possível que os mesmos que fazem escalada nesse mesmo caminho nos considerassem malucos? Pelos vistos sim. Conselho: caso estejam interessados em percorrer os cerca de 1,5 kms de caminho evitem fazer perguntas aos locais, as respostas por vezes poderão não ser muito incentivadoras.
Dia 11, 7:30 (8:30 espanholas)
– estávamos acordados. Mas ainda não estávamos prontos a iniciar a marcha. Tínhamos assuntos pendentes, lá tratamos deles e decidimos pernoitar mais uma noite nestas instâncias.
11:00 (12:00 espanholas)
Iniciávamos a nossa despedida ao local de pernoita e lá percorremos aquele caminho até o nosso destino.
Chegámos à Earth, foto da praxe tirada e onde começaria o percurso? Atravessamos a primeira ponte ferroviária, dali via-se o percurso a uns meros 20 metros, mas como chegar até lá? Impossível? Para já sim.
Prosseguimos a viagem seguindo o caminho-de-ferro, um túnel, dois túneis, três túneis e continuávamos sem desencantar o acesso ao caminho. Depois dumas indicações fumegantes à frente, e dum claro engano estávamos no caminho onde não existe segurança, uma tentativa ali e acolá e decidimos não arriscar. Tentámos decifrar as indicações e lá fomos por meio de mato, descendo a colina inclinada, chegamos ao fim da mesma, um rio e mais mato separava-nos do objectivo.
Tínhamos conseguido chegar a um dos extremos do percurso. Após aproximadamente umas 2 horas de buscas, estávamos onde devíamos e onde queríamos estar. Dava-se agora início à verdadeira prova de fogo.
Mosquetões seguros na linha de vida e lá fomos fazendo os primeiros metros da caminhada. Os primeiros 500 metros fazem-se sem grandes problemas e quase duma assentada, exceptuando um pequeno troço de 2/3 metros. Os restantes 800 metros também são relativamente simples. Mais uma vez, um pequeno troço de 2/3 metros em que o metro de cordelete que tinha se revelaram insuficientes para me permitirem continuar o trajecto agarrado à linha de vida. As opções eram voltar para trás ou arriscar passar sem a devida segurança, felizmente agourou-se uma terceira alternativa: um dos participantes, o Rafa, ia bem prevenido e tinha umas cordas extra que me garantiram os centímetros extra que me faltavam.
A diferença deste segundo troço para o primeiro, é o da existência de ventos fortes que atravessam a garganta.
Após os primeiros cerca de 1300 metros chegámos à ponte que atravessa uma das encostas da garganta para a outra. O objectivo primário estava cumprido. Estava na altura de decidir como voltar para trás, em conversa com malta que lá se encontrava parecia que havia saída em frente, ou seja, mesmo perto da Earth, teríamos calcorreado tantos kms à procura da entrada em vão?
Um deles vai-se embora e íamos com o intuito de o seguir, passou o o caixeiro (João), Rafa (Rafael), e eu ia atrás deles. O coruja (Eduardo) decidiu permanecer na ponte até que tivéssemos confirmação da saída. Estava assim no dilema do início deste relato.
A resposta é: não dei o salto final. A permanência do vento forte e a minha falta de comprimento de cordeletes não me conferiram aquela última coragem final. Ficaram a faltar-me os últimos 150 metros.
O João e o Rafa que depois tentaram alcançar quem ia sair por esse lado, perderam-lhe o rasto e o alcançaram o final do caminho sem encontrar a tão desejada saída.
Percorremos tudo inversamente, descemos a colina, atravessamos o rio e subimos a outro colina, em extensos minutos estávamos novamente na Earth cache a olhar para o troço final e a tentar desencantar a saída, que estava lá mas não era muito óbvia para quem estava de cima.
Por isso a quem for posteriormente, a entrada e saída faz-se no local da Earth, atravessa-se a ponte, corta-se imediatamente à sua direita de modo a passar por baixo da ponte, e aí serão capazes de ver o início da linha de vida, são uns 30 metros bastantes alucinantes para chegar ao início mas valerão bem a pena.
Espero ter ajudado e incentivado muitos de vós a arriscar e percorrer este magnífico caminho.
Material Necessário:
- Capacete;
- Arnês;
- 2 mosquetões com respectiva cordelete para a segurança;
- E essencialmente muita precaução e responsabilidade.
Grupo da Expedição:
Eduardo (Coruja)
João (Caixeiro_viajante)
Rafael (NPPN)
André (KinderPT)
7 responses so far ↓
1 MAntunes // Jul 14, 2010 at 09:25
Vocês andam a tentar-me… e eu que não sou nada destas coisas…
Uma linha de vida de 50 anos é suficiente? 😉
Obrigado pelo relato! 🙂
2 paulo.umm // Aug 3, 2010 at 14:41
Bem…., sem palavras!!!
Obrigado pela partilha e pela vontade que me deram de também lá ir…
UMM abraço!
p.s. – Sr. Eduardo “Coruja”, um cumprimento com a mão esquerda aqui do Sr. Paulo Gui do 740… 😉
3 Maglor // Feb 22, 2011 at 14:49
E ando eu ainda a tentar convencer amigos para irem fazer isto comigo lol desde o ano passado. Afinal quanta corda é precisa? -Não percebo nada disso. Mas tenho garra e equilíbrio para lá ir! 😉
4 Filipe // Feb 23, 2011 at 00:11
LOL…eu ando à espera da data ha anos…eu vou eu vou eu vou
5 Maglor // Feb 24, 2011 at 13:59
Filipe? Se ninguém responde ao meu email que recebeste (se fores esse Filipe) como é que eu sei quem quer ir?? Chicken! 😉
6 ANGELO MARTINEZ // Nov 6, 2012 at 19:39
mgustaria tener alguna informacion de esta ruta
como llegar, el tiempo de recorrido, la mejor epoca del ano,
agradesco la informacion
7 Andre Videira // Nov 9, 2012 at 15:52
Olá,
Já ando a “namorar” a ideia de fazer este percurso há cerca de dois anos, mas como sou de Viana do Castelo, fui colocando a ideia na prateleira.
O “problema” é que actualmente estou a trabalhar em Gibraltar, a uns meros 130km do local, o que leva a que tenha tirado a “ideia” da prateleira e voltado a pensar na possibilidade de fazer este percurso.
Não tenho experiência nenhuma em escalada, mas julgo conseguir ter acesso ao material que indica com alguma facilidade, portanto o equipamento de segurança não é problemático.
O meu “grande” receio é o meu tamanho: os vídeos que se vão encontrando no youtube mostram que o pavimento está tão degradado, que faz-me pensar duas vezes se não é insensato eu ir para ali com os meus 110kg… 🙂
Qual é a tua opinião?
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