# 200 – 17h00 – 31ª multicache
Este log ganhou o concurso de melhores logs de Novembro de 2012.
Parte 1/3
Neste nosso embrionário percurso no geocaching português, existe um nome que é já uma referência de excelência associada ao geocaching Leiriense… Gato Maltês.
Efetivamente já tivemos o privilégio de comprovar esta excelência, não só pela qualidade, criatividade e conhecimento impressos nas suas criações (containers, enigmas, listings) mas também pela dedicação, respeito e simplicidade de alguém que partilha um pouco de si, de uma forma que, sem dúvida alguma, contribui para a dose diária de felicidade daqueles que aceitam fazer os seus desafios com o verdadeiro espírito do jogo.
The Secret Beauty foi-nos sugerida pelo próprio owner, num breve contacto durante um evento em que tivemos o prazer de o conhecer pessoalmente… a pessoa por trás do nick.
Desde logo ficou a curiosidade que levou à procura no site do que estaria por trás deste apelativo nome, e quando a página abriu… uma listing, de extraordinária beleza e repleta de magia, surgia diante de um olhar que absorvia cada linha, cada detalhe deixando-se transportar para uma outra dimensão.
Nesse momento ficou comprometido que seria a nossa cache nº 200.
Tiradas todas as notas necessárias e adquirida uma pilha conforme recomendado, estava tudo preparado para uma aventura que se vislumbrava, no mínimo, a melhor de todas as que já havíamos vivido. E o tão aguardado momento chegou….
“Era uma vez, num reino entre a brisa marinha e o aroma do bosque verdejante, uma família comum que estava prestes a viver uma aventura inesquecível!”
O dia amanheceu entre a indecisão do sol em ser um cavalheiro e ceder o lugar à chuva, ou simplesmente deixar-se ficar radiante naquele céu azul polvilhado de nuvens ansiosas por refrescarem a mãe terra.
Estava programado levar o cacherodinhas ao seu exame anual, no qual passou com a distinção de um verdadeiro elemento da família respeitador das regras e do ambiente, sendo premiado com um ecológico dístico verde . De seguida, levou-nos até bem perto das margens do rio, onde iríamos em busca do portal para entrar no reino dos espíritos da natureza.
Apeámo-nos e a partir dali caminhámos à descoberta de um mundo novo, levando os olhos da alma e os sentidos do coração como ferramentas cruciais e insubstituíveis para o sucesso desta aventura.
A primeira entrada que vislumbrámos atraíu-nos como um íman e, de repente, meia escondida pelas frondosas e inúmeras espécies do bosque… a “travessia”!
Mas não podíamos iniciá-la sem antes encontrar aquele que tudo inverte, pois só ele nos podia mostrar o caminho. Começámos então a ouvir um som melodioso que refletia, desde as águas saltitantes do rio até às copas das árvores, um mapa imaginário que nos levou ao local onde existiu a mágica passagem secreta, desvendando-nos aquele que deveríamos transportar e proteger até ao fim. Para o alcançar foram precisos cuidados redobrados devido à agressividade do terreno, repleto de armadilhas, tentando desequilibrar-nos para que caíssemos nas mandíbulas do senhor das águas revoltas. Este cenário foi criado pelo mago do tempo, que ao saber da nossa intenção, alterou a integridade do terreno na calada da noite, tornando-o numa ameaça iminente a quem se atrevesse invadir o perímetro.
Superado o 1º teste, fomos nomeados reais guardiões e nesse instante, como por magia, aquele que tudo inverte tornou-se visível e mostrou-nos o caminho!
Regressámos à “travessia” onde sentimos a proteção, e não a animosidade, daqueles seres mágicos de quem já tínhamos conquistado a confiança, e a outra margem foi alcançada com sucesso. Agradecemos-lhes por isso e novamente, num passe de mágica, surge-nos um cenário completamente diferente do anterior. Será que tínhamos passado a toca do coelho e estávamos no País das Maravilhas?
Da Alice nem sinal… mas, adiante, uns pórticos gigantes marcavam a entrada noutra Era.
Parte 2/3
O fascínio aumentava a cada passo e um olhar que abarcava o infinito registava fotograficamente cada milímetro palmilhado. Aproximávamo-nos da “Clareira” onde deveríamos encontrar a chave dourada que nos permitiria aceder àquele que transportávamos e que nos revelaria o local secreto.
Entrámos num novo portal, pois a paisagem mudou novamente…. Ooohhhhhhh, não parávamos de distribuir ooohhhhhhhh’s de admiração e estupefação a cada cenário desta “Wonderstory”.
Avistámos o que supostamente teria sido uma passagem para a outra margem, mas agora levada pela força da corrente estava deitada calmamente na margem de cá, esperando que a devolvessem ao lar ou que força maior a levasse de vez. Ainda tentámos o resgate, mas o senhor das águas revoltas exercia tamanha pressão que quase nos arrastava também. Deixámo-la então a salvo do malvado, na esperança de que quando amainar a sua ira, ela possa retornar. Mas afinal, com estas manobras de diversão, estávamo-nos a distrair do objetivo que nos levara até ali – encontrar a chave dourada. Avançámos em direção à árvore invertida em V sobre o rio, que nos ajudou a encontrar o guardião de tão valioso artefacto.
Momento de “suspense” na abertura do precioso cofre… quais Nicolas Cage e Diane Kruger na “Lenda do Tesouro Perdido – Livro dos Segredos”. Não era a Declaração da Independência dos Estados Unidos mas era de uma importância vital para a descoberta da beleza secreta. Foi nesta altura, num último registo fotográfico daquelas tão engraçadas casinhas dos elementares da água, que os elementares da terra num acesso de ciúme me fizeram tropeçar e quase me estatelavam para dentro do rio, onde o senhor das águas revoltas já esfregava as mãos de contente. Ainda não foi desta que me apanhaste ó malvado, graças aos elementares do ar que me protegiam puxando-me para que mantivesse o equilíbrio naquele piso escorregadio.
Tínhamos que sair dali rapidamente, pois o mago do tempo estava a preparar uma tempestade para nos impedir de alcançar o segredo! A viagem de portal em portal envolveu-nos de tal forma que, sem darmos conta, estava na hora de voltar para levar as crianças aos seus compromissos de sábado à tarde. Olhando o céu, o cenário era dantesco, as nuvens agrupavam-se a uma velocidade vertiginosa escondendo o astro rei, senhor da luz. Acelerámos o passo e ao transpormos os pórticos gigantes de regresso, sentimo-nos cercados de espíritos invisíveis que nos empurravam para a “travessia”. Teimosos e numa última tentativa de entrar no trilho que nos conduziria ao segredo, a ira do mago do tempo desabou nas nossas cabeças, em forma de bolhas líquidas e geladas, que nos fez correr tão depressa quanto podíamos até encontrarmos um ponto de abrigo para além da “travessia”. Veio-me à ideia Bartolomeu Dias e o Cabo das Tormentas… será que a viagem entre portais e aquele documento com a Rosa-dos-ventos, que tínhamos em nossa posse, nos projetou ao século XV? Como não podíamos ficar ali eternamente a sofrer no corpo aquela ira sem fim à vista, corremos até ao cacherodinhas e regressámos a casa.
A noite foi fustigada violentamente pela água que jorrava do céu, como que de uma conduta em rotura, num cenário de tormenta marítima com o “Gigante Adamastor”.
Esta criação do mago do tempo, na tentativa de nos demover de tão mui nobre cruzada, foi vã, mas digna de uma realização de Steven Spielberg! O entusiasmo não esmoreceu e só a caçulinha estava a dar sinais de debilidade. O mago do tempo tinha feito uma baixa no team .
E porque era dia de S. Martinho e com ele o geocompromisso de um magusto de tradição, urgia uma decisão que incluísse as 3 tarefas agendadas.
Parte 3/3
Viajámos até terras do Lis, onde antes da incursão final fizemos um desvio ao feiticeiro tribal para que nos desse a poção para a cura da nossa caçula. Depois e num passe de mágica estávamos de volta ao início…onde tudo começou. O júnior, apesar de contrariado, teve que ficar a fazer companhia à irmã no cacherodinhas, uma vez que esta não nos poderia acompanhar.
As margens do rio tinham transbordado, resultado da tempestade noturna, mas depois de recolhido o material necessário voltámos a percorrer todo o trajeto até ao início do trilho, onde finalmente se desvendaria o segredo…ou não , será???
Descemos com todos os sentidos em modo de alerta laranja, e apesar de estarmos quase a chegar ao “x” do mapa do tesouro, tínhamos que entrar no território do senhor das águas revoltas, território que este conquistou em conluio com o mago do tempo durante a noite. O sénior já ia prevenido e impermeabilizado enquanto eu, alegre e destemida, preferi a afronta direta, que esses dois personagens maléficos não me haviam de demover tão perto da descoberta! Descalça, calças arregaçadas até ao joelho, entrei na gélida água que a emoção aquecia, e finalmente diante dos nossos olhos um símbolo de beleza e harmonia, um ícone que me fez lembrar o teto do mundo. Era ali que estava guardada a “beleza secreta”.
Um balbuciar de palavras de merecido apreço ao arquiteto desta magistral obra de arte antecipou a abertura de tão engenhosa peça. Quase caí de costas para tentar ver, o que me parecia ter saído de uma tela de cinema em 3D. MÁGICO é a única palavra que me ocorre para definir o enredo do momento!
E assim, diante do nosso olhar incrédulo, desce o Livro Mágico onde na sua 1ª página se encontra desvendado o segredo!
Nos sons do silêncio os aplausos daqueles pequenos seres mágicos, a felicidade dos nossos corações que batiam desconcertadamente, a rendição do senhor das águas revoltas e do mago do tempo… tudo dissipado pela beleza secreta! Uma sensação única, pessoal e intransmissível que cada um de vós deve procurar e guardar dentro de si para “re-cordis” (do latim, voltar a passar pelo coração).
Depois de voltarmos a selar o guardião do livro mágico, a aventura tinha terminado e estava na hora de regressar…, embora não conseguíssemos deixar de admirar aquele engenho magnífico de uma beleza indescritível… mas tínhamos mesmo que ir!
“FIM”
Os pequenos estavam à espera no cacherodinhas e ainda tínhamos que ir celebrar o S. Martinho no Evento I Geomagusto [Leiria] que estava a decorrer na Marinha Grande, ou seja, perto de casa .
Ao Artur, aka Gato Maltês, deixamos aqui expresso o nosso agradecimento por nos ter proporcionado esta aventura fantástica que jamais esqueceremos, e também pela dedicação, qualidade e criatividade demonstradas que devem ser enaltecidas e respeitadas.
Foi sem dúvida alguma até agora a melhor cache que fizemos.
Não podemos atribuir um favorito mas é a nossa FAVORITA de coração!
In: TB Boomerang
1 response so far ↓
1 jasafara // Dec 30, 2012 at 23:01
Muito bom log e a montagem fotográfica está muito apelativa gráficamente.
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