Baptismo Geocaching – Forum Land Rover

btrodrigues - 2005/09/19

As linhas de Torres foram feitas para resistir aos franceses mas os génios por trás desta engenhosa organização de fortalezas e postos de observação não imaginavam que, alguns séculos depois, 5 pontos distintos e nevrálgicos fossem conquistados numa só tarde, por um exército de apenas 30 pessoas… Sinal dos tempos, os cavalos de batalha eram… ingleses!

(atenção: este artigo é longo e pode conter spoilers)

A explicação é fácil.
Depois de meter o bichinho do geocaching no vsergio e de o deixar “marinar” e tomar-lhe o gosto, ele mexeu os cordelinhos no seio do Fórum Land Rover (FLR) (http://www.forumlandrover.org) e lá arranjou uma data para o grande “Baptismo Geocaching FLR). Escolher uma data é difícil, porque esta espécie tem uma vida muito ocupada, recheada de passeios e encontros e raids e longos fins-de-semana parados na oficina (ora bem, já começámos a ser mauzinhos, eheheheh).

O critério para a escolha das caches foi talhado de propósito para os veículos que nos iriam transportar. A maior parte das caches exigiria um veículo todo-o-terreno para ser alcançado da melhor forma, com o bónus de haver aqui e ali algum espaço para brincar, fazer uns riscos, tirar o pó das suspensões coloridas e, quem sabe, achar mais uma folga ou ruído estranho nas caixas de velocidades, distribuição e direcção dos fiéis amigos. Não foi por acaso, portanto, que se optou pelo denominador comum das Linhas de Torres. Houve ainda lugar para uma multi-cache com direito a pouco mais de um quilómetro de marcha no meio do mato (taaantas queixas que eu ouvi!). Se eu não fosse condutor de um veículo comercial de duas portas e baixinho, com certeza teria havido melhor pesquisa prévia, e com o devido tempo, haveria de se arranjar mais um ou outro corta-fogo para explorar.

A poucos dias do evento, a coisa estava meio nublado. Haviam poucas confirmações e o evento estava perseguido pelo espectro de se tornar um passeio de meia dúzia de gajos pingados.

As piores expectativas goraram-se por completo quando, à hora do encontro, o número de máquinas se ia acumulando. Eram 11 viaturas! Depois do cafezinho da praxe, de se terem feito as apresentações possíveis e de se ter distribuído a papelada com as informações das caches a visitar, fez-se uma breve palestra sobre o geocaching. Falou-se do que iriam andar à procura, dos cuidados que teriam que ter (muggles, trash out, leave no trace, o processo de logging, as trocas de recordações) e fizemo-nos à estrada. Por esta altura, ainda havia gente à nora com os GPS (just for the record: dois Garmin GPS V, dois Garmin GPSMAP 276C, um Garmin Foretrex, o meu Garmin GPSMAP 60CS e o fiel Magellan Meridian), a colocar as coo

O primeiro ponto a visitar foi o Forte da Ribas. Depois da caravana ser o centro das atenções nas terrinhas todas por onde passámos (Cabeço de Montachique, Casaínhos, Fanhões), saímos da estrada para uma valente subida até ao forte onde se fizeram ouvir pela primeira vez os potentes motores e onde deu para fazer algumas travessuras e testar a resistência das costas aos abanões dentro das viaturas. Chegados ao forte, foi tempo de, para muita gente, procurar a primeira cache. Sem saber a localização actual da cache, fiquei de fora, a admirar. Sem que alguém tivesse descodificado a dica, o fosso era lentamente percorrido por desgraçados neo-geocachers de calções, todas as pedras eram levantadas à procura de algo suspeito, qualquer coisinha que brilhasse era logo alvo da sagrada inquisição… Por esta altura, as leituras dos vários GPS eram erróneas, o que podia facilmente ter sido explicado pela proximidade dos cabos de alta tensão. Eu só sei que o pessoal já se espalhava por uma área de 100m^2 excedendo qualquer EPE menos famoso e da caixa, nem sinal. Mesmo com a dica, era altura de telefonar ao owner e dizer que o forte estava a ir abaixo – e pedir reforços. Não queríamos transformar a primeira experiência desta malta num falhanço, pois não? Com a dica do owner, a populaça concentrou-se noutro sítio e não demorou muito tempo até se ouvir um sonoro grito de alegria conforme a cache era encontrada. A informação foi lida e relida (stashnote incluída), as trocas foram feitas, foi tirada a fotografia de grupo. Foi chamada a atenção para o facto de dali se ver mais meia dúzia de fortes e a Serra do Socorro (também parte integrante do sistema de defesa das Linhas de Torres), onde viríamos a terminar o dia. Era tempo de fazer o belo passeio ao longo da Estrada do Forte, em direcção a Ribas (de onde se pôde então admirar, cá de baixo, o soberbo enquadramento do forte que tínhamos acabado de visitar).

Próxima paragem: Forte da Aguieira. Depois de meia dúzia de intermináveis quilómetros de alcatrão, a subida ao forte, contornando o marco geodésico, subindo o marco geodésico, atando o guincho ao marcho geodésico para subir MESMO lá acima (OK, agora estou a ficcionar) … o pessoal lá dispersou e aproveitou para recuperar o fôlego, atirar-se ao bolo de canela da Maria João, tirando inúmeras fotografias e aproveitando a magnífica vista lá de cima. O ataque à cache foi feito de forma um bocado mais ordeira, já que ainda havia tempo para passear até lá abaixo. Calmamente, os GPS dirigiram-se para o ponto certo e já não foi necessário de todo desmanchar o forte nem se notaram problemas de maior com as silvas. Estavam a apanhar-lhe o jeito…

Alcatrão de novo, desta vez com destino a Alhandra. A cache do Monumento de Alhandra não tem praticamente interesse nenhum do ponto de vista TT. E a zona estava pejada de motards com mau gosto musical. Entre nós, ainda houve um ou outro que tivesse andado à procura de um tupperware no meio dos pilares do monumento, tendo sido feita a primeira demonstração de como é feita normalmente uma multi-cache. Contas de cabeça, as descrições e instruções da cache à mão e olho vivo. Feitos os cálculos e as conversões nos mais variados sistemas de coordenadas, para que as mesmas fossem introduzidas nos GPS, houve quem ficasse com a impressão que a cache estava mesmo ali em baixo, no meio do Tejo. Tiradas as teimas e as fotografias da praxe, foi feito um breve curso de incursão ao mato: “a cache é já ali em cima”. Como já se torna hábito, havia uma estrada mesmo ali ao lado da cache e tal, mas não fez mal nenhum o passeio (o pessoal havia de se vingar cerca de uma hora depois, pois ainda havia bolo com fartura, sumos, rissóis, café e até um bavaroise de caramelo muito muito bom). Como o passeio pedestre demorou tempo, houve oportunidade de achar a cache e deixá-la no sítio para que o grupo seguinte a encontrasse (houve quem quisesse escondê-la noutro sítio para dificultar a tarefa, just for the record). Fiz uma pequena palestra sobre o que era aquele telemóvel com uma chapinha agarrada e sobre a corrida de travelbugs, foi feita a leitura da documentação da praxe e o retorno ao parque de estacionamento. Já havia um geocacher à espera que o maralhal lhe libertasse o spot 😉

A fome apertava e a conversa estava do melhor. Mas ainda mal tínhamos passado de metade do que havia para fazer e o fim do dia aproximava-se. Tivemos que deixar pessoal ali por Alhandra (geocaching é porreiro mas os deveres estão primeiro) e refizemos parte do caminho até bem perto do Sobral de Monte Agraço. Estava a cair a noite, a Serra de Montejunto lá ao fundo começava a desaparecer no meio de um nevoeiro fininho… E foi a vez de subir até ao cimo do Forte do Alqueidão, calcorreando uma calçada romana que deve ter tido efeitos terapêuticos de massagem em muitos dos participantes. Ainda estava metade da comitiva a ambientar-se ao frio gélido que se fazia sentir e já, do meio das silvas, se gritava vitória e se encontrava a cache. Nem deram hipótese… Aproveitava-se para tirar as últimas fotografias com luz natural e apreciar a vista do miradouro (onde ainda resistem alguns azulejos que apontam os antigos fortes). Estava-se nisto, a logar e a dar à língua quando se ouve ao longe o ruído de um motor. Era um UMM que se aproximava carregadinho de gente. E o clã dos Land Rovers já preparava um grande “bruaaaaah” (há quem diga que se prepararam uns tacos de basebol, mas eu não vi nada), quando vindo do nada se seguiu um “Série II”. Eu não sabia o que era um “Série II”, foi um termo que comecei agora a adoptar. Para mim, aquilo era parecido com um jipe da bófia, daqueles com muuuuitos anos. Pelo estado de conservação e pelo estado zombie em que ficaram todos em adoração ao carro, estava ali uma relíquia. Pelas aventuras que o dono diz que faz com o carro (“Já dei 100Km/h nisto”), calcula-se que dure pouco. Angariados mais uns “clientes” para o FLR e feitas as respectivas trocas de impressões, toca a despachar por ali abaixo… Já era noite… E baptismo de geocaching sem geocaching nocturno não é nada.

A viagem até à Serra do Socorro foi relativamente pacífica e rápida. Deixámos mais um Defender junto ao acesso da A8 e passámos por Pêro Negro, onde ganhámos a escolta de um Patrol que queria ir brincar para os montes connosco. Pffft.

Não deu para perceber bem a plenitude da paisagem do cimo da Serra do Socorro. Estava escuro. Estava frio. Mas a paisagem prometia. Aproveitou-se assim para inaugurar outro tipo de caçada geocaching: aquele em que se praticamente se atropela a cache. Com o caminho indicado por um pedestre qualquer de 60CS na mão, as valentes máquinas cercaram o ponto zero e acenderam os seus faróis para abrir o caminho. Com a ajuda de uma ou outra lanterna, pouco demorou até a cache estar nas mãos de mais um neófito.

Resultado final: Uma tarde muito bem passada em muito boa companhia. Cinco caches magníficas, com esconderijos escolhidos a dedo. A primeira multi-cache (adicionar a calculadora ao material). A primeira cache nocturna (idem para a lanterna). O primeiro contacto com as silvas (tomem nota: calças, calçado resistente, luvas). Um passeio que merecia ter tido mais uns quilómetros fora de estrada, lama, poeira, furos, coisas assim. Um baptismo completo, uma valente ensaboadela. Meia dúzia de pessoas a dizer que agora é que iam comprar um GPS. Missão cumprida!

Aos amigos do FLR: Espero sinceramente que tenham gostado. Foi um prazer passar esta tarde convosco. Vemo-nos por aí.

13 responses so far ↓

  • 1 btrodrigues // Sep 19, 2005 at 17:46

    as primeiras fotos (as minhas) em http://against.org/baptismo-geocaching-FLR-btrodrigues/

  • 2 ricardorsilva // Sep 19, 2005 at 20:00

    Aquilo parecia estilo a partida para a Meia-Maratona de Lisboa – só que com Land Rovers à mistura!

    Se imaginarem que para além dos LRs (a devida vénia à grande referência do todo-o-terreno) ainda lá estavam uns Patrol e umas quantas motas, podem calcular como eu pensei que tinha ido parar ao meio de um passeio de todo-o-terreno organizado pelo Clube Aventura ou algo do género.

    E, depois de ter corrigido as coordenadas, podem imaginar o meu espanto quando chego ao local da cache e vejo aquilo pejado de gente. "Uns quantos tipos que, numa pesquisa na net, encontraram o site do geocaching e aproveitaram para incluir uma experiência no passeio", pensei. Uns segundos para os deixar esconder a cache, uns "Bons dias" e "Boas tardes" trocados e um "Deve vir à procura de uma cache" de um desconhecido de óculos escuros e cada um seguiu o seu caminho.

    Mas, pelas caras e sorrisos com que me cruzei, diria que temos mais uns quantos convertidos.

    P.S- Portanto, podemos dizer que o meu 307 já chegou a um sítio onde os Defender não se aventuraram…

  • 3 mca // Sep 19, 2005 at 23:20

    Epá isto deixou-me com água na boca… também eu tenho um Defender e também eu pertenço ao ForumLandRover, embora não conheça ainda ninguém por lá….. portanto aos novos geocachers um grande BEM VINDOS e vamos combinar uns TTs juntos!

    abraço
    MCA

  • 4 japiteira // Sep 20, 2005 at 11:22

    Boas! MCA, como num conheces ninguém?… Já te apresentaste? Larga lá uma laracha, ´tás absulotamente á vontade com a malta!

    Sobre esta experiência: ***** Gostei mesmo, lá em casa já somos 2 convertidos e até a minha ex ou ouvir o nosso rebento a contar as peripécias do dia quer aderir!

  • 5 vsergio // Sep 20, 2005 at 23:05

    Obrigado a todos por tão entusiasmante dia de Geocaching.

    Estes cavalos de batalha ingleses ficarão a curto prazo, de certeza, equipados com Garmins, Magellans…

    Enfim… doenças saudaveis estas que nos afectam!

    GeoLandAbraços

  • 6 clcortez // Sep 20, 2005 at 23:55

    Há algum tempo atrás falou-se em como muitas vezes as máquinas 4×4 usadas abusivamente estragam o património….isto inclusivé foi falado acerca dos Fortes das Linhas, pois alguns deles são usados pelos TTistas para rampas de treino e brincadeira…é pena que assim seja e que os mesmos não estejam sensibilizados para a conservação do património, seja ele natural ou construído.
    Bom, só quero apenas dar as boas vindas ao pessoal do TT e pedir que tentem sempre que possível preservar o meio, sem exageros. É muito giro subir uma rampa com un certo grau de dificuldade, mas se a mesma for dentro de um Forte das Linhas a mesma acção já não tem a mesma piada…eu também tenho um jipe e sempre que possivel tento não abusar, embora nada melhor que meter a máquina off-road!!:)
    Já agora, tenho um Grand Vitara, que não vai a todo o lado com um Defender, mas se quiserem combinar um Passeio TT à caça de caches alinho!:)

    Porteladas, cumé? Deixaste morrer a ideia? Bora lá meter os nossos nipónicos ao barulho c estes ingleses?

  • 7 portelada // Sep 21, 2005 at 00:45

    Na …. ando a assistir de bancada !!!  Este pessoal dos LR é mais para almoçaradas e petiscos, quando é para riscar atolar e sujar o carro ficam a olhar !!! LOLOLOLOL

    Vamos lá fazer uma caches em conjunto !! para vermos quem pisa a mesma com o pneu da frente …. andam para ai umas em mafra bastante apeteciveis !!!

    Marquem o dia, se não tiver a trabalhar, apareço por lá com o meu nipónico, já com os novos sapatos recalchutados !!!

  • 8 2 Cotas // Sep 21, 2005 at 11:45

    … a moda não era o BTT?
    Ou a coisa era muito cansativa?

    Gostei muito da descrição. Mas o que eu gostei mais foi de saber que durante meses os lugares onde esconderam as caches estão todos bem marcadinhos de esgatanhados e são acessiveis ao meu Saltapocinhas, hehehehe!  

  • 9 portelada // Sep 21, 2005 at 14:39

    Ainda continua de pé o BTT !!! ainda na segunda fui fazer o track GPS da maratona de Oeiras !!!

    De qualquer maneira ainda temos o track que idealizei para os fortes das linhas de torres a noroeste de lisboa !!! é s+o escolher o dia, como devo ter férias até o fim do ano estava a guardar para ai !!! de qualquer maneira ainda está calor !!!

    Quero ver o teu saltapichinhas a subir até a cache "fortes das linhas de torres e a geologia" e a ficar a 3 metros da mesma !!! LOLOLOLOL ….qualidade de vida é assim !!!!

  • 10 Jorge Piteira // Sep 21, 2005 at 18:36

    LOL, esse cometário dos nipónicos e ingleses ´tá giro!… É q a gente diz o mesmo dos nipos… 😛 Bem, divergências á parte, alinhava nessa de fazermos umas caches conjuntas, na zona de Mafra ainda seria melhor pois moro em Rio de Mouro e como num tenho GPS até dava jeito ir com mais alguém! Importante também é o que foi dito a cerca da utilização dos TT´s no meio ambiente, usar e abusar dos caminhos sim, mas dos caminhos, nunca fora deles! Bem, deixo então os meus contactos, mail e MSN: jorge.piteira@netcabo.pt

  • 11 2 Cotas // Sep 22, 2005 at 13:18

    Não é saltapichinhas, é saltapocinhas!
    Deixa-te disso se não eu conto em publico a cena dos caçanicos abichanados…

  • 12 vsergio // Sep 22, 2005 at 17:37

    Mais do qualquer outra coisa, a perservação pelo Ambiente e pelo Património estão incutidos de raiz no Espirito Landroverista… ou mais concretamente, nos Gajos que padecem de LANDITE!

    Vitaras!?!?!… pffff
    😉

  • 13 clcortez // Sep 28, 2005 at 20:37

    Portelada, VSergio, JorgePiteira, vamos lá combinar uma data para fazer o track do Portelada!

    Sugestões??

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