Mais uns na procura do eremita

Jose Adonis - 2006/10/19

2006.10.15

Como é que se faz um log destes? Começa-se por onde?

Na verdade o inicio da expedição começou à quase um mês quando no geo@pt se organizava um ataque conjunto a esta cache. À altura fiquei interessado, mas infelizmente uma ida minha não se propiciou na altura. Como a cache era referida como "difícil" e que não deveria ser feita a solo, vai de tentar arranjar companhia. Uma ou duas dicas/sugestões espalhadas pela net (fóruns, IMs, etc.) também não me trouxeram companhia, pelo que me voltei para o outsourcing. Um quase convertido mugle (já fez comigo duas em Sintra e gostou, o palerma ) foi a 1ª vítima. Com 3 semanas de antecedência lá de predispôs a aceitar a estopada em troca da promessa de pedalar em BTT por outros montes e vales – barato, no fim de contas – num dos fins de semana que por aí vêm. 4 dias antes do dia marcado para a expedição, encontrei outro "virgem" nestas andanças (ena, reparo que já fez o log! Está perdido! Bem vindo, pirilampo ) que posto ante o dilema de passar um Domingo em passeata (como quem diz, não é verdade…) pelo campo ou em trabalhos de mudança de residência, com as correspondentes dores de costas que isso acarreta, preferiu – sabe-se lá porquê! – ir até à zona de Tomar. Na sexta à noite enquanto estava em trabalhos de help-desk com o pmateus21, chegou a colocar-se a hipótese de ele nos acompanhar. Infelizmente não deu . Fica para a próxima. À última da hora, já no sábado, juntou-se finalmente a nós um amigo do pirilampo que como tinha um GPS novo (daqueles que não serve para nada em Geocaching, mas que por comiseração toda a gente se absteve de comentar) o queria experimentar a maquineta e ver que raio de coisa é essa de procurar taparués. E quanto aos protagonistas é tudo.

Domingo de manhã[1], café no Tabuleiro, que isto de acordar cedo tem muito que se lhe diga. Distribuição de material, conferência do mesmo, tentativas divinatórias (alguma coisa vai faltar, falta sempre! O que será desta vez?) e outros quiproquós e finalmente ala que se faz tarde. Sendo que se a saída da Portela já se fez mais tarde que previsto, ainda assim estava dentro dos limites do imaginário mapa de Gant estabelecido para o dia.

Recolhidos mais à frente as outras duas vítimas, fizemo-nos finalmente à estrada rumo a Tomar. Uma calma e descontraída viagem e por volta das 11h15m chegámos finalmente a Agroal. Estacionar.

1º Erro: vamos de calções. Juro que se estivéssemos com atenção já nessa altura se poderia ouvir as silvas a rir e a bater palmas. Mudanças de indumentária, mochilas às costas e ala que se faz tarde. E agora? Direita? Esquerda? Isto de telemóveis a funcionar com GPS nunca ajuda ao primeiro passo. Ainda um dia irei arranjar um daqueles com bussola verdadeira e que tenha realmente uma setinha que aponte para o local correcto para onde se deve começar a andar. Dado que as leis de Murphy nem no dia do Senhor estão inactivas, claro que fomos em frente. Depois de quase pisarmos a "Cold Spring" (na altura não o sabíamos) e de termos andado trezentos metros na estrada e no sentido errado, lá se fez luz e voltámos para trás.

Chegados novamente à ponte, nova decisão: direita ou esquerda? Errámos novamente, como seria de esperar e fomos pelo interior do Agroal. O que nos valeu foi a pontezita mais à frente, senão eram mais uns valentes metros em marcha à ré. Passada a ponte[2] e chegados ao outro lado nova decisão. Visto que a setinha aponta para a frente e como para a frente não se pode ir, ou vamos pela direita junto ao rio ou pela esquerda usando a estrada. Dada a natureza da cache, apostámos no rio e em breve nos sentíamos já em plena aventura. Um breve percurso depois e as dificuldades que dão fama à cache começaram a vir ao de cima. Tivemos de abandonar o belo passeio bucólico à beira rio e logo me vi a subir uma íngreme encosta entre tojo e outro mato cerrado, tentando não rebolar por ali a baixo. Algum tempo depois chegámos a um muro. Saltámos muro e ficámos na… estrada. Confuso:! Hummm, se calhar deveríamos ter vindo pela estrada, não? Bem, não há-de ser nada. Andou-se um bocado[3] e lá saímos novamente para caminhos vicinais. Dessa forma, rapidamente[4] se chegou ao local onde está a 1ª pista e onde se dá a 1ª procura.

Pausa para alimentação.

Procurar… procurar… procurar…. mas que nabos que estes gajos são! Bom, têm desculpa, é a 1ª vez. Perguntas do tipo: "o que é que andamos a procurar?", "que tamanho tem?" "existe mesmo aqui qq coisa escondida?", "onde é que está? Não diz nesse papel?"…

Depois de quase terem demolido o local, lá deram com ela (eu estava coordenar as buscas, é claro! i.e. estava comer e a gozar o pratinho ). Copiámos as indicações, mais umas discussões e lá seguimos para a direcção indicada[5] em busca da pista seguinte.

Agora sim! O verdadeiro ambiente de selva. Só faltou o Tarzan (pronto, a bicharada tb não era propriamente africana, mas não queiram estragar a fantasia!). Árvores com lianas, silvas, raízes mal colocadas, silvas, troncos escorregadios, silvas e outras espécies florestais compunham o cenário (eu já falei das silvas? :anjinho:). Lá demos com a bifurcação – quanto mais não seja porque em frente não parecia nada fácil e voltámos na direcção sugerida. Umas silvas depois lá chegámos à escarpa. Magestoso! Lindo! Assustador (só um pouquito, pronto). Deambulámos nas imediações mas, tal como os outros antes de nós, lá descobrimos que porque razão se tem mesmo de descobrir a rota alternativa. Só mesmo com material e com malta com prática. O Ricardo e o Marco tinham essa experiência, mas o material tinha ficado em casa… a velhice (do equipamento, nada de confusões) não perdoa e não vale a pena arriscar com material inseguro. Meia volta para trás e vai de procurar a rota alternativa. Ajudados por descrições de desgraçados anteriores a nós, lá fomos andando. Muitas silvas, cabeçadas, tropeções e eventos similares, lá chegámos finalmente à 1ª caverna – local da 2ª pista – e começou-se à procura.

15 segundos depois já estava. Por acaso foi muito fácil. Pausa para… alimentação. Repostas as baterias, lá se admirou o local e o seu acesso com auxílio de meios mecânicos (eg. cordas e afins). Discutida a coisa pelos experts, passou-se à análise do próximo trecho do percurso. Dadas as indicações, a aparência da coisa e os logs dos visitantes anteriores (e respectivas fotografias), decidimos tentar o caminho da escarpa. Comeu-se mais qualquer coisa. Trash out. Arranjar coragem e insultar mais umas silvas… e aí vamos nós novamente.

Realmente, o trilho[6] é magnífico. Com muito cuidado para não cair, sendo regulamente arranhados pelas silvas, lá fomos progredindo, tentando encontrar algum caminho alternativo para baixo no caso de não conseguirmos passar pelo caminho da escarpa. E lá chegámos finalmente ao local já referido noutros posts. Aquela passagem parece realmente complicada. Vamos, não vamos.. um já foi o outro recusa-se… tu és grande e eu sou pequeno… está molhado, não está nada… eu ajudo! Tudo menos isso…

Complicado, enfim. A coisa resolveu-se provavelmente porque alguém se deve ter lembrado das silvas que havia para trás. Sendo assim, o único caminho era para a frente. Cuidadosamente, lá se fez. Afinal, nem era assim tão difícil. Aliás, pelo menos a mim, aquela parte seguinte do caminho em que se tem de gatinhar e depois passar uma fenda revelou-se mais difícil.

Mas não adianta perder aqui muito tempo em descrições exaustivas. Basta dizer que muito depois, muitos ahhs e ohhhs depois (que a beleza do percurso bem os merecem) e depois de muitas silvas (porra que tou a ficar lixado com "F" maiúsculo com estas sacaninhas) lá conseguimos chegar ao destino final! Vitória!!!

Pausa para alimentação… e vai de explorar a caverna. É realmente bastante maior do que parece à primeira vista. Como havia lanternas (viram? viram? Homens prevenidos, hein) deu para explorar calmamente o buraco. Pelo menos até onde se conseguia ir sem material. Assustados os morcegos e depois de alguma destruição do tecto da caverna com o auxílio de testas mais proeminentes (os capacetes tinham ficado no carro por razões assumidamente estratégicas, ie. preguiça) lá voltámos à entrada e procurámos a cache final. Sem muita dificuldade, lá demos com ela. Depois foi o interlúdio. Uns minutos em alegre cavaqueira acerca de geocaching, actividades radicais, misoginia pura e dura[7] (4 homens juntos, o que é que se esperava?), mais alguma alimentação tudo isto intercalado com a escrita dos logs e a troca de prendas. Alguns não levavam nada, mas como eu já o esperava, houve prendas para toda a gente, tendo ainda um TB ficado em alegre repouso à espera que alguém o vá buscar[8]. Depois foi só fazer o trash out, arrumar as coisas, esconder novamente o taparué e decidir como fazer o regresso.

Dada as últimas dificuldades e a geografia do local, decidimos voltar pelo rio[9].

Começou então o regresso. Voltámos pelo trilho da escarpa, na procura de um local que nos permitisse ingressar no rio. Infelizmente, alguns que nos tinham parecido promissores não o eram tanto como na primeira passagem tinham parecido, pelo que ainda teve que se fazer um bom pedaço na escarpa. Só para dar uma ideia, quando finalmente conseguimos descer estávamos quase na primeira caverna[10]. Descemos então à beira-rio e foi altura de trocar de indumentária. Houve quem se ficasse quase nu, outros em chinelos e até quem mui sabiamente (se alguém diz alguma coisa, leva) tivesse consigo um par extra de ténis e meias (eu avisei… não arrisquem!) numa superior demonstração de capacidade intelectual. E foi altura de mergulhar nas água límpidas da ribeira.

Cumprindo mais um sonho de regresso à idade infantil, lá começou a marcha contra a corrente do rio. Água pelos joelhos, ambiente descontraído, tudo perfeito. Depois começou o sobe e desce… Ora água pelos tornozelos, ora pelos joelhos… ou ainda mais acima! Veio à memória uns logs anteriores que referiam não terem sequer molhado as cuecas. Feita uma deliberação geral, ficou decidido que: ou os geocachers anteriores são jogadores profissionais de basquetebol ou então (muito mais provável) são uns mentirosos. Algum elementos do grupo mais incautos (nem que me acusem nunca vou confessar que foi o Ricardo) não levavam roupa interior (e.g. cuecas, para quem não percebeu) de substituição, pelo que o caso estava a ficar negro (ou melhor, azulado, dada a cor do líquido). Mesmo assim a coisa lá ia andando, com mais ou menos dificuldade[11]. Só se complicou verdadeiramente quando o desgraçado que em determinada altura ia à frente fez notar que já só tinha o pescoço de fora. Como nem sequer era o mais baixo, fizemos um pequeno retrocesso e saímos do rio, desta vez para a margem oposta.

De chinelinhos (vá, riam agora dos meus ténis com meias!) pelas rochas fora lá fomos andando mais umas dezenas de metros, até se chegar a um ponto em que a) para a frente não dava mais e b) o ria parecia mais baixo. Entrámos novamente na água e com mais ou menos dificuldade – suponho que o desgraçado que partiu os chinelos seja dos que ficaram com a parte do mais – lá prosseguiu a viagem. Depois até ao fim não houve mais incidentes e a viagem terminou na represa. Hora de chegada: 17h58m. Fotos da praxe e vamos para o carro.

Mudou-se de roupa e só para descomprimir, fez-se outra cache que havia ali na zona.

Agora, começou o lento processo de incutir em certas cabeças mais duras que há por aí umas tais de aranhas que até parecem bacanas e que nem deve ser muito difícil visitar…

Uma só nota final para agradecer aos geocachers anteriores a nós que pelos seus logs e fotografias nos facilitaram imenso a tarefa. E que também nos incutiram o desejo de fazer este passeio.

[1] Bom, mais ou menos. Inicialmente marcado para as 8 da manhã e posteriormente adiado para as 8h30, verificou-se a nossa passagem na zona de Vila Franca de Xira quase às 10h. Nada de anormal, portanto. Afinal, sendo Domingo, não há grandes razões para levantar de madrugada.

[2] Dia concorrido, no Agroal. Junto às piscinas naturais, uma grande concentração de escuteiros fazia provas aquáticas. Espalhados pelas imediações estava o material deles. Foi difícil resistir à tentação de "pedir emprestados" alguns bastões de caminhada, visto que foi algum do material que ficou algures esquecido.

[3] Tinha-se cá vindo a ter directamente se se tivessem feito correcta e completamente os trabalhos de casa. O local está geo-referenciado pelo dono como um local onde parar…

[4] Com grandes discussões à mistura sobre a menor ou maior apetência do local para a prática do BTT. Foram intervaladas com uma pausa para comunicar às respectivas famílias que não se preocupassem, que estava tudo bem, que íamos arrancar e que íamos ficar novamente sem sinal. Aliás, fica aqui uma nota a futuros visitantes. Foi este o único local em que na área tivemos sinal de telemóvel. Em Agroal não há, pelo que se fizerem como nós e esperarem pelo parar do cachemobil para telefonar, podem-se ver na contingência de não o conseguir fazer.

[5] Na verdade, para uma direcção um bocadinho à esquerda da indicada…

[6] Com aquele tamanhito, será que merece esse epíteto?

[7] Note-se que o Tomás fazia um mês de casado! Ainda estou para saber o que é que um "gaijo" casado à 30 dias anda a fazer perdido por montes e vales….

[8] Os iniciados mais esclarecidos ainda perguntaram no local das primeiras pistas se também nesses contentores se deixavam prendas…. tenrinhos…

[9] Na verdade, sou capaz de jurar que a verdadeira razão foi devido a: 1) Já que vim carregado com uma muda de roupa, quero usá-la! 2) Sou um miúdo grande e não resisto a andar na água, 3) havia por ali atrás umas silvas, 4) uma qualquer mistura das hipóteses anteriores…

[10] Ainda se falou em «já que estamos aqui, nem vale a pena ir pela água». Escusado será dizer, que sob pena de excomunhão, tais opiniões foram doutamente abandonadas.

[11] Sim, porque nesta altura já havia quem fosse por vezes descalço. Nem sempre é fácil perseguir chinelos debaixo de água…

9 responses so far ↓

  • 1 Jose Adonis // Oct 19, 2006 at 17:36

    Mau Maria! Como é que eu corrijo este texto? Mas que raio de cenas são aquelas?

  • 2 btrodrigues // Oct 19, 2006 at 18:06

    quais cenas? não vejo nada!

  • 3 MAntunes // Oct 19, 2006 at 19:26

    Quando sairam da gruta onde está a cache final, podiam ter entrado no Rio logo em frente, flectindo ligeiramente para Sul. Assim, tinham ficado com as cuecas secas. 😉

    Pelo relato (excelente! :-)), vocês entraram no rio no local onde nós saímos para regressar ao trilho já perto do local da 2ª cache (no fundo do algar). 🙂

    Parece que esta cache continua a estimular a vontade de partilhar a aventura com os outros, não importa o tamanho dos logs.

    É realmente uma cache especial. 🙂

  • 4 lamas // Oct 19, 2006 at 20:19

    Ora ai está uma pergunta muito bem feita!
    Como logar uma aventura destas?

    Adonis, vais mas é passar a escrever uma cronica das tuas cachadas s.f.f.

  • 5 lopesco // Oct 19, 2006 at 22:32

    Adoro ver um relato destes!!!

  • 6 pmateus21 // Oct 19, 2006 at 23:21

    ExCeLeNeTe ReLaTo !

    A descrição da cache já é só por si um excelente convite a esta cache, e ao ler estes relatos só piora a coisa !!  Infelizmente ainda não foi desta que tive a oportunidade de lá ir…

  • 7 ricardorsilva // Oct 19, 2006 at 23:25

    … cuequinhas sequinhas!

    Apesar da minha triste figura de calças pelo joelho, à pescador, o rio ainda não devia estar tão cheio como depois das últimas chuvadas…

    Lynx Pardinus

    P.S- Grande relato! Parabéns!

  • 8 rebordao // Oct 20, 2006 at 09:12

    … sequinho!
    Fui um dos nãos ao regresso pelo rio… talvez tivesse tido mais piada, mas sei de umas quantas pessoas que ficariam muito chateadas no fim com o frio 🙂

    Obrigado pelo relato! Não foi de todo a nossa abordagem, mas mesmo assim deu para reviver alguns momentos 🙂

  • 9 touperdido // Oct 26, 2006 at 20:48

    Grande aventura!
    Ainda em defesa dos que não são mentirosos mas que ficaram com as cuecas secas lol Sob suspeita de ser da zona e conhecer o local… a primeira e segunda cache fiz pelo processo normal… para chegar á cache final fui de kayak.. o que significa que fiquei com: CUECA SECA! lol 🙂

    Rui Duque

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