A Salto

MAntunes - 2006/12/25

A emigração "a salto", é uma história de alegrias e sofrimentos, de partidas e chegadas. Parte-se para descobrir novas terras e gentes mas, principalmente, para trabalhar e melhorar a vida. De carro, camioneta ou a pé, por estradas secundárias, montes ou ribeiras mas quase sempre de noite, com uma mala de cartão na mão.

Dá-se o Salto, para que a vida nunca mais seja a mesma, para contrariar o destino, para vencer a miséria.

Muitos não chegaram a conseguir emprego na estranja, alguns foram enganadas por "passadores" sem escrúpulos, muitos mais viveram vidas de que se envergonham, alguns tiveram sucesso e voltavam a Portugal, nas "vacances", em carros luzidios, muitas vezes alugados, para aclarar a alma derretida pelas vicissitudes da vida de emigrante.

Os emigrantes portugueses, que davam o "salto", eram perseguidos através da fronteira, pela Guarda Fiscal, seja nos montes e vales, seja em inspecções persucutórias aos autocarros ou carros particulares pelas polícias do Estado Novo. O mesmo Estado que acolhia, com satisfação, as remessas dos emigrantes para as famílias que ficavam cá, muitas vezes velhos e crianças, esperando ansiosamente notícias dos seus idos. E, algum meio de subsistência para enfrentar a vida difícil que tinha "expulsado" os seus entes queridos.

Esta será uma cache dedicada a todos eles e à minha tia que morreu, por não estar habituada a conduzir nas estradas cobertas de gelo, na França – partiu o pescoço no caminho entre casa e a fábrica de louças de esmalte onde trabalhava.

Brevemente, na zona do Tejo internacional, entre o posto Quercus de observação dos abutres, perto de Rosmaninhal, e a "passagem de Cáceres", por onde a minha tia saíu,  mais uma multi-cache temática.

Com emoção. Para quem gosta de se perder por montes e vales.

Boas Festas!

PS1: Afinal parece que sempre será entre o Natal o Ano Novo. 😉

PS2: Já tenho o ok do "garri", que consultei préviamente.

10 responses so far ↓

  • 1 play mobil // Dec 25, 2006 at 18:37

    Bela homenagem à tua Tia e a tantos que nunca mais voltaram…

    Boa sorte para esta cache! 🙂

  • 2 bargao_henriques // Dec 26, 2006 at 11:08

    Excelente iniciativa, e merecida homenagem!
    Parabéns 😉

  • 3 danieloliveira // Dec 26, 2006 at 18:27

    Lá vou eu ter que andar aos saltos outra vez!

  • 4 clcortez // Dec 29, 2006 at 19:32

    Pelo que sei estará entre hoje e amanhã a ser colocada esta cache…espero em 2007 ir fazê-la e assim juntar-me a esta homenagem.
    Parabéns!:)

    Cláudio Cortez

  • 5 MAntunes // Dec 29, 2006 at 20:29

    a um bife na pedra em Termas de Monfortinho, onde vou passar a noite.

    Amanhã já continuo.

    Está dificil, esta. O Rio Erges não quer colaborar. 😉

    Mas, entretanto, a "Abutres!" já está colocada. 🙂

  • 6 MAntunes // Dec 31, 2006 at 16:03

    Esta cache tem uma longa história.

    Desde hà mais de uma ano que tinha decidido colocar uma cache dedicada a este tema e desde hà uns meses que tinha pensado nesta semana. Hà cerca de um mês comecei a hesitar por causa das chuvadas fortes mas depois melhorou e mantive os planos.

    A ideia era fazer algo mais bruto.
    Tinha referenciado a zona do Tejo Internacional, perto de Rosmaninhal onde sabia da existência de um posto de abservação de alados, como ponto de partida e o local de passagem dos emigrantes, como ponto de destino; uma caminhada de entre 25 a 35 kms, sempre pelo alto da margem do Rio Tejo, com uma possível pernoita a céu aberto ou numa gruta que encontrasse no caminho.

    Entretanto, um ou dois dias antes de partir, recebi uma informação da minha Mãe que me fez alterar os planos; o local de passagem da minha Tia não era onde eu pensava mas mais a Norte, já no Rio Erges, perto da povoação de Segura. Rápida busca de pesquisa de  mapas, internet, consultas à família e decidi fazer duas caches em vez de uma. A "Abutres" e a "A Salto". Ainda não é desta que vos ponho a dormir ao relento. 🙁

    A primeira cache, na zona do Tejo Internacional, zona de paisagem protegida e de preservação de alados, embora aberta ao público, com posto de observação das aves e trilho marcado, resultou muitíssimo bem. A zona é mesmo um oásis de natureza, de sossego de comunhão com a natureza (após desligarmos o motor do carro). Cheguei a ouvir o que julgo terem sido dois ou três animais de médio porte, barulho de cascos, a correr pelo meio da vegetação em passo curto e rápido – penso que eram javalis mas não os vi. Encontrei dois postos de alimentação de abutres (carcaças de ovinos deixadas no local, juntamente com os sacos de rafia com o nome do matadour e que removi do local e deixei num contentor público) e várias vezes vi perdizes a correrem à minha frente, antes de se dicidirem a levantar voo. Por outro lado, as vistas sobre o Tejo, lá em baixo, são deslumbrantes. Quando me aproximei do ponto de observação e depois entrei lá dentro, os abutres aproximaram-se e sobrevoaram-me durante alguns minutos. foi um momento de alguma excitação em que aproveitei apra tirar diversas fotos. Até ouvia o barulho do vento nas penas das aves. Ainda me lembrei; e se eu me deitar no chão, imóvel, será que eles se aproximam mais para eu tirar melhores fotos? Juro! Ali sózinho, a mais de 1000 metros do carro, a mais de 9 kms da povoação mais perto, com mais de 30 abutres a sobrevoaram-me e eu preocupo-me em melhorar as fotos.

    Fiquei mesmo satisfeito com esta colocação. 🙂

    A segunda parte, a "A Salto", já não correu tão bem. Chegado à zona de Segura, fiz uma primeira volta de reconhecimento, falei com duas pessoas e identifiquei os locais alvo. Depois comecei a perceber que o Rio, pelo menos nesta altura do ano e após as chuvadas fortes de Novembro, não estava pelos ajustes. Reparei então que haviam construído uma pequena ponte sobre o ribeiro de Sta. Marina, que desagua no Rio Erges, e isso mais umas movimentações de terras que se notam no local, estreitou o leito do rio o que desaconselhava tentar atravessar o rio a pé.
    Com a ajuda do Ozi, percorri os montes a Noroeste de Segura na tentativa de encontrar um trilho que me levasse perto de um outro local de passagem a pé. Sem sucesso. A zona é bastante escarpada e, tirando os caminhos referenciados no Ozi, não hà locais de passagem que não ponham em risco os geocachers que tentassem passar o rio para fazer esta cache.

    Como ia preparado para passar a noite na zona e às 17h30 já não se vê nada, procurei local de pernoita e disseram-me que só em Termas de Monfortinho o poderia encontrar. Assim fiz. Depois de jantar, fui fazer outra  coisa que tinha em mente; obter as coordenadas dos vértices da "Triangle of History".

    No dia seguinte, ontem, lá fui cedinho colocar a cache final, que já tinha decidido onde ficar, e procurar maneira de colocar a 2ª cache no lado de Espanha, indo pela povoação de Piedras Albas e aproximando-me da Ribera de Erjas por Este.
    Outra desilusão; na zona foi criada uma reserva de caça privada e os acessos estão agora bloqueados por vedaçãoes de arame farpado. Aqueles caminhos terão sido, segundo a minha família, os que foram percorridos pela minha Tia, marido e outras emigrantes, para chegarem ao carro que os aguardava no lado espanhol. Agora estão vedados.
    A ideia era sugerir que se chegasse ao 2º ponto indo de carro por Espanha, se o rio não pudesse ser atravessado ou atravessar o rio na zona junto ao pequeno açude que forma uma praia fluvial que deve ser bem agradável no Verão.
    Assim o 2º ponto poderia ter dois tipos de aproximação consoante a época do ano e o caudal do rio. Mas não deu.

    Como queria mesmo colocar a cache – foi ali e nesta época do ano, após o Natal, que a minha Tia saiu de Portugal, porque esta colocação tinha envolvido tempo, dinheiro, logística (colocar sandálias e cuecas lavadas na mochila), comecei a desesperar.
    Ainda pensei em atirar a 2ª cache ao Rio Erges que desagua no Rio Tejo que vai parar a Lisboa e depois… Não, deixa-te de coisas. 😉

    Até que encontrei a solução; fazer uma cache que agora é assim e mais tarde é assado; por agora todos os pontos estão do lado de Portugal, sendo os primeiros dois mesmo em frente aos locais que me referenciaram como de passagem e, mais tarde, lá para o Verão, vou à zona e coloco a 3ª cache do lado de Espanha. Nessa altura, além de o Rio ter menos caudal pela certa, será um prazer atravessar a praia fluvial a nado. Esse 3º ponto terá as coordenadas da cache final assim como o 2º ponto as tem actualmente.

    O objectivo é tornar o 3º ponto opcional; quem  quiser experimentar a sensação de passar o rio num dos locais onde os emigrantes o fizeram, pode fazê-lo, especialmente no Verão ou quando o rio já estiver com menos caudal. Quem não se quiser molhar, faz apenas um percurso ribeirinho e observa os locais de passagem.

    Prontos. Está feito. 🙂

    Segura e o Rio Erges revelaram-se bem interessantes. Tem lá umas escarpas de ambos os lados do rio que fazem lembrar as Portas do Ródão em ponto mais pequeno.

    Continuo com intenção de fazer "a minha cache". 🙂

  • 7 zoom_bee // Jan 1, 2007 at 15:18

    Grandes caches, sim senhor, felizmente não tenho histórias relevantes de emigração na família, mas da maneira que este país está a ficar, não tarda vamos ter de reescrever novas linhas sobre a emigração lusa para outras paragens…
    A Abutres, está muito interessante, dado a impossibilidade de a visitar nos tempos mais próximos fico à espera dos primeiros logs com fotos (+ detalhadas) dos bicharocos 😀

  • 8 Cachapim // Jan 1, 2007 at 22:09

    "Foi o caso da minha Tia e do marido que passaram naquele local (Segura) o Rio Erges para retomar o carro que a esperava mais adiante, na povoação de Pedras Albas(…)"

    A Salto? Em Segura? Deixas-me de lágrimas nos olhos, Manel… Então chego
    eu de umas atribuladas férias, ligo-me à net para saber novidades e dou com esta(s) tua(s) maravilhosa(s) cache(s)? É que a minha avó materna nasceu em Segura, espanhola pelo sangue do pai, o meu bisavô Cândido Wenceslao Hernandez y Hernandez, que no mesmo Erges passou e salvou do fuzilamento muitos refugiados da Guerra Civil, alguns parentes de Piedras Albas e Zarza, famílias divididas pelos dois lados.

    No domingo, dia 17 de Dezembro, estava eu no cemitério de Idanha-a-Nova
    a enterrar o meu tio, único irmão da minha mãe e minha companhia nas
    batidas e passeios de há muitos anos pela Zebreira, Rosmaninhal, Monfortinho e Segura, nas margens do Erges, do Aravil e do Ponsul. Os madeiros estavam preparados nos adros de todas as igrejas, o frio apertava e a vista do cemitério de Idanha é linda. Pudessem os mortos ver.

    Bem hajas, um abraço e óptimo 2007 para ti e para os teus!

  • 9 clcortez // Jan 3, 2007 at 12:47

    Muito bom mesmo!

    Tens clientes garantidos…não sei é quando!:)

    Quando falas na "tua cache"…a ideia da viagem à Media Fronteira, ali junto a Marvão…ainda tá de pé?;)

    Cláudio Cortez

  • 10 MAntunes // Jan 3, 2007 at 13:29

    Obrigado a todos pelas agradáveis palavras e obrigado ao HDV por ter "assaltado" a minha "A Salto". 🙂

    Fiquei surpreso e muito agradado por ter uma visita tão rápida. 🙂

    Na Média Fronteira, Marvão? Não, esse assunto foi falado hà tanto tempo que já me "desliguei" dele. 🙂

    A próxima, a "minha cache", se conseguir encontrar um local que preencha os meus requisitos, será algo que inclua pernoita durante o percurso.

    Senão, talvez me fique por aqui. 🙂

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