Panorama do Geocaching na Hungria

Torgut - 2007/05/09

O Geocaching na terra dos magiares anda uma dó d’alma. Uma vez, já vai para dois anos, em Praga, encontrei um casalinho de geocachers de Budapeste. Ou diziam-se tal, porque a verdade é que cai na asneira de lhes passar uma moedinha para as mãos, daquelas que se registam no geocaching.com, e nunca mais ninguém ouviu falar dela. Era um tempo em que moedas havia duas: as americanas e as alemãs. Tão simples como isto. Mas mesmo assim, a tal moedinha levou sumiço. Dos húngaros não encontrei traço no website geocaching.com, e finalmente consegui apanhar a pista dos raptores, num projecto para consumo interno da Hungria, no qual existia um registo de utilizador com o mesmo nome que me tinha sido rabiscado no Moleskine de viagem. eMail enviado, para sempre sem resposta. Paciência. Mas isto para dizer que nesse breve encontro, a meia-encosta da colina Petrin, o tal pseudo-geocacher me recomendava de viva voz uma expedição a Budapeste para catar caches à grande e à francesa; ah e tal, que havia muitas e das boas, que devia ir, que ia ver o que era caçar “tupperwares” à séria. E aquilo foi um grilar que me ficou atrás da orelha…

Qual não foi portanto o meu espanto quando, de viagem já marcada, me debruço sobre o mapa de operações (vulgo Google Earth) daquela cidade, e vejo que afinal aquilo de caches está muito pobre. Daquelas que se vão a pé a partir da rede de transportes públicos urbanos, não chegavam a trinta. Parecido com as quinhentas de Praga, hein? Bom, pensei, trinta sempre é melhor do que nada. Vamos lá a elas. E fomos.

Nos primeiros dias aquilo ainda rendeu. Depois, esgotaram-se, e, infâmia das infâmias, nos dois últimos dias fez-se de tudo menos Geocaching, porque já não havia nada de viável para descobrir. Para esta secura precoce contribui bastante o facto de umas 70% das caches próximas do centro de Budapeste serem virtuais. E depois, daquelas virtuais que a coisa se limita a chegar ao ponto das coordenadas e já está. Algumas ainda tinham umas tarefas, uma recolha de elementos para obter uma tal de “password”. Afinal, essa palavra-chave apenas era requerida para fazer o registo da descoberta no website paralelo que eles têm, sendo de todo desnecessária para o “nosso” Geocaching. Aqui entre nós, a coisa é de tal forma que a rapaziada nem tem efectivamente que deslocar os ossos até aos locais destas caches virtuais. Os manganões pode chegar e dizer: “Sim, estive lá.” E pronto. Na maioria dos casos é tudo o que é preciso. Nem um boneco do local, nem uma palavra a atestar a veracidade da presença.

 

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Simplesmente estar aqui é tudo o que é preciso para “encontrar” uma cache

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Encontrar este túnel é por si uma cache, virtual, claro

 Depois, as outras, com presença física, estão para ali deixadas, ao triste abandono. Aquilo é logbooks e mais logbooks, empilhados em camadas sucessivas no interior das caixas, legados por visitantes piedosos que acharam por bem contribuir com a sua quota-parte para a sobrevivência das caches. As “prendinhas” são de uma pobreza franscicana. Moedinhas e TB’s? Nem vê-los ! Nem um só, para amostra e recordação desta incursão. Mas contudo estão por lá registados como tendo entrado. Alguém os levou e não cuidou do seu registo, pobres insectos viajantes, para sempre perdidos nas mãos de magiar destemperado. E depois é a própria qualidade intrínseca da generalidade das caches, colocadas em locais que ilustram um fraco planeamento e um cuidado duvidoso na protecção dos “containers”. Enfim, aquilo que por cá chamamos simplesmente de “más caches”. Mas a cereja em cima do bolo é a cache que se encontra no Parque da Cidade: o seu owner decidiu movê-la, passou-a de micro a regular, cuspiu as novas coordenadas numa “note” lá pelos logs, e não se preocupou mais. Ao fim de vários meses, que creio constituirem já anos, as coordenadas oficiais da cache continuam erradas e o mais espantoso é que apesar de todos os justos protestos e reclamações, o “owner” continua paulatinamente a visitar o website e nada faz para corrigir a situação.

Para terminar, dá a ideia que passou por aquele país um raio mágico que tudo parou no tempo. As caches são as que são, como se estivessem para ali desde 2001 ou coisa do género, e nunca mais ninguém se lembrou de criar mais. Nos vários meses que durou o planeamento desta viagem, nem uma só novidade apareceu nas listagens. Parece que tudo o que havia para ser criado, já o foi… e que enorme injustiça isto é, numa cidade tão rica em locais de interesse, tão cheia de recantos onde a colocação de um “container” seria uma brincadeira de crianças. Tivesse eu uma varinha mágica e estou certo que num par de dias poderia semear por ali, contando só os percursos que a pé se fazem a partir do centro, umas duzentas ou mais caches.

Mesmo assim nem tudo é mau no Geocaching húngaro: todas as caches que estudámos apresentam uma versão em inglês, permitindo ao viajante partir em sua demanda; ao contrário do que sucede em Praga, e, cada vez mais, em Portugal.

  
Primeira cache em Budapeste e uma das poucas “a sério”. Estava junto ao tronco
da árvore que se vê ao fundo. Acesso complicado. Muito ingreme.

Nota: este texto representa a inauguração do blog que decidi criar dedicado à minha experiência no Geocaching – http://papacaches.wordpress.com

3 responses so far ↓

  • 1 jcpmleal // May 10, 2007 at 08:56

    Muitas das caches que estão a surgir por cá neste momento de enorme divulgação mediática estão seguramente condenadas ao abandono no médio prazo.
    Numa elevada percentagem de casos assiste-se a um momento inicial de grande entusiasmo pela actividade em que a pulsão para a colocação de caches é fortíssima seguido de um esmorecimento que, em muitos casos, leva ao abandono por completo da actividade. Isto sempre foi assim, não é um fenómeno recente. Acontece que o geocaching está a chegar ao povo e este vem cheio de tusa (atente-se nas perguntas que inundam o geo@pt). Alguns populares ficam tão cegos que a primeira coisa em que pensam é esconder uma caixa sem mesmo saberem o básico da coisa. Muitas das caches nascidas deste geocaching boom têm o destino traçado: abandono!

  • 2 MAntunes // May 10, 2007 at 09:11

    Informativo e bem escrito. Não imaginava que as coisas estivessem assim. Agora percebo a dificuldade que tive em ‘contratar’ um Hungaro para as IMCs que fiz aqui hà uns anos.

    Já ‘bookmarquei’ o blog. Irei lá espreitar de vez em quando. 🙂

  • 3 Torgut // May 10, 2007 at 09:43

    Curiosamente, apercebi-me que há pouco tempo andou por cá um geocacher húngaro, no Gerês, a “fazer” as caches que lhe deixaram, o seja, que algúem se deu ao trabalho de apresentar com uma versão em inglês.

    O que o Leal diz, já é sabido. Aliás, por ali pelos fóruns já foram apresentados alguns casos reais e concretizados desse abandono adivinhado.

    O que não está com nada é o autor não poder editar os artigos. Assim que carreguei no submit vi o erro no título de ste artigo… e logo no título, que mau aspecto!

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