# 1000!!!
(Log – parte 1/3)
Bem, é verdade que já há algum tempo que tenho vindo a adiar este log, pois adivinha-se complicado. Como iniciar um log que uma cache tão especial como esta, que foi simultâneamente a minha milésima, serviu para comemorar o 1º ano sem fumo do Trevas, a caminhada mais longa que já fiz e uma aventura do caneco na companhia destes “granda malucos”? Começar pelo princípio? E qual foi o princípio? Princípio do quê?
Isto está a ser difícil. A verdade é que já apaguei esta linha três vezes e não há meio de me decidir. Vamos lá ver se é desta!
Desde que esta cache foi publicada que andava de olho nela. Afinal de contas, quem não andava? Só os relatos do pessoal que se aventurava pelos caminhos de ferro abandonados nas margens do Douro eram de fazer inveja e mais desconsolado fiquei quando finalmente me estenderam o convite e, azar dos azares, factores externos impediram-me de o aceitar. Talvez tenha sido melhor assim. Penso que esta cache estaria destinada a desígnios maiores e acho que não me enganei. De facto esta é uma daquelas que tem um sabor melhor ainda quando serve o propósito de celebrar algo.
Tudo começou há umas semanas atrás quando o Miguel lançou a ideia aos expedicionários de virmos até esta cache com o propósito de celebrar o seu primeiro ano sem fumo. Desta vez eu não iria desperdiçar tal proposta e disse claramente que cá estaria. Além disso tinha o aliciante de me faltarem poucas caches para as 1000 e assim juntava o agradável ao… agradável!
O problema é que uns meros três ou quatro dias antes da grande caminhada tive a desagradável surpresa de uma unha do dedão grande do pé encravar e inflamar, o que me causava bastantes dores ao andar. Ainda assim prometi a mim mesmo que não ia desistir da caminhada… simplesmente não podia sofrer tão grande desilusão! Por isso gastei uns 80€ só em produtos para atacar de 1001 maneiras diferentes a maldita unha. A verdade é que foi resultando, pois no dia anterior já não me doia tanto.
Abalei então rumo a Norte na companhia dos MitoriGeikos (…e não só ). Partida um pouco atribulada pois quando já íamos na 2ª circular é que me lembrei que tinha deixado o PDA em casa e o Zé teve a gentileza e paciência de voltar atrás. A verdade é que não me tinha esquecido dele… simplesmente tinham-mo roubado sem dar por isso. Regressámos pois em direcção a Norte, com algumas paragens pelo caminho para procurar caches, largar gatos e mães, procurar caches, comer leitões e… procurar mais caches! Já era mais ou menos 4 da manhã quando finalmente chegámos à pousada de juventude de Vila Nova de Foz Côa, o que nos dava cerca de 3 míseras horas para tentar dormir alguma coisa antes de nos juntarmos ao restante grupo e lançarmo-nos à aventura ao amanhecer.
(Log – parte 2/3)
O dia amanheceu mais depressa do que aquilo que eu esperava. Não pareceram 3 horas de sono, foram mais uns 5 minutos… Mas era dia de Geocaching à séria, e nesses dias sair da cama é um prazer e o corpo parece cheio de energia mesmo que os ossinhos estejam todos partidos! Em menos de nada estávamos a caminho do Pocinho, onde ainda ficámos bem uma hora à espera do restante pessoal, tempo bem aproveitado para um pequeno almoço reforçado e para preparar todas as tralhas e sandochas para o longo caminho que se avizinhava. Calcei as sandálias para poupar a unha aleijada e guardei os ténis numa bolsa exterior da mochila, caso fossem mais tarde necessários para transpor terreno difícil, decisão que mais tarde se veio a revelar… cómica…
Finalmente por volta das 8 e tal da manhã os restantes malucos chegaram e após os cumprimentos, apresentações e afins, iniciámos por fim a tão esperada caminhada em direcção a Barca D’Alva.
Os primeiros 2 quilómetros afiguraram-se fáceis, o pior começou quando chegámos mesmo à parte abandonada da linha. Habituarmo-nos ao terreno e aos travessões irregulares não foi feito de forma imediata, mas após mais outros 2 ou 3 quilómetros já andávamos a bom ritmo, animados pelas conversas e pela curiosidade sobre aquelas marcas pintadas na parede de forma sequêncial. A paisagem gradualmente tornava-se mais “selvagem”, com altas escarpas dos dois lados do rio, o que tornava o ambiente algo sombrio.
Os primeiros 10 quilómetros até à estação de Foz Côa pareceram-me uma eternidade, mas a verdade é que só tinham passado cerca de 2 horas. Aproveitei a sombra de uma das paredes da estação para fazer uma pequena paragem de “recauchutagem”, situação que se tornou propícia a uma sessão de fotos com títulos do género “guerra química”.
A situação caricata do dia e que originou parte do título desta expedição aconteceu poucos metros à frente, quando iniciei a travessia da primeira ponte do percurso. Tinha atravessado os primeiros 5 ou 6 metros quando ouvi um “plof” de algo a cair lá em baixo no rio, junto a mim. Quando me virei para trás e me preparava para perguntar quem era o engraçadinho que andava a atirar pedras é que reparei que não vinha lá ninguém. Nesse momento olhei através dos travessões da ponte e vi lá em baixo qualquer coisa a flutuar no rio: era um sapato… O MEU SAPATO!!!!
(Log parte 3/3)
Obviamente não deu para recuperar e a única coisa que pude fazer foi observa-lo a afastar-se calmamente pelo rio enquanto escutava as gargalhadas do pessoal que se apercebeu da situação. Pelo menos fico contente por saber que dei um contributo para a boa disposição. Só com um ténis não tive outro remédio senão fazer o resto da expedição apenas de sandálias, o que até se veio a revelar bastante confortável!
Mais à frente o pessoal começou a queixar-se de fome e de calor, fazendo uma pequena paragem por debaixo de uns eucaliptos. Eu nessa altura seguia um pouco mais adiante com o Costa e parámos umas poucas dezenas metros depois do restante grupo, debaixo de umas rochas. Foi engraçado escutar as conversas do pessoal a perguntar por nós, sem se aperceber que nós os conseguiamos escutar.
A paragem foi curta, já que o Manuel prometeu que lá mais para a frente faríamos uma mais prolongada num túnel fresquinho, antes da estação de Castelo Melhor.
O prometido foi cumprido e um minutos mais tarde estávamos nós sentados à sombra a comer sandochas, enchidos e bolos, antes mesmo de nós enchermos de protector solar, sob os comentários trocistas de alguns, que mais tarde se vieram a arrepender .
Desta vez custou um pouco mais a levantar para mais uma etapa, mas o que tem de ser tem muita força e metemos de novo pés ao caminho.
A serenidade do rio, conjugada com as cores primaveris das margens convidavam à contemplação e reflexão enquanto caminhava. Ora umas vezes em silêncio, ora outras em alegre galhofa, assim se completaram os intermináveis quilómetros que nos separavam da estação de Almendra.
Estação que muito ficaram felizes por ver, pois continha a promessa de água fresca, algo que já tinha acabado em alguns “cantis” há muito tempo. Eu cá fiquei mais feliz por finalmente poder estender-me sob a sombra das paredes da estação e descansar um bocado as pernas.
Já começava a cheirar a cache, não aquele “aperitivo” que por ali se encontrava, mas este prémio maior! Foi com redobrado vigor que percorremos a distância que nos separava desta cache. Já junto às coordenadas finais não foi nada fácil de decidir onde procurar ou como abordar a procurar, mas o esforço acabou por recompensar!
Finalmente após algumas manobras mais ou menos radicais e muito suor conseguimos chegar ao esconderijo dela e resgatá-la. Um verdadeiro espectáculo! Foi sem dúvida um momento especial que irá ficar vivo na minha memória!
Mas esta é daquelas caches que transcende o simples caixotinho. A caminhada ainda não tinha acabado e posso dizê-lo com toda a certeza que, apesar de sabermos que Barca D’Alva era “já ali ao virar da esquina”, os últimos quilómetros foram os mais custosos. A certa altura também já não levantava os pés, de tão dorido que estava das articulações.
A determinada altura, já pertinho, pertinho de Barca D’Alva parece que morri e fui para o paraíso. Só que não havia 72 virgens, só duas cozinheiras que distribuiam alheiras e águinha fresquinha !
A Silvana e a Elena tiveram a gentileza de nos prepararem uma agradável surpresa à beira da linha. E que bem que soube! Muito obrigado! A elas juntaram-se o Almeidara e o Drager que também andavam por ali perto.
O final era já ali! O ultimo quilómetro e pouco foi feito descontraídamente, acompanhado por um misto de alívio e aquela satisfação tremenda de quem conseguiu cumprir um objectivo há muito esperado. Aventuras destas não dão para explicar, só mesmo para viver! Podia escrever muitas mais palavras, mas tenho a certeza que ficariam sempre aquém das minhas recordações.
Muito obrigado a todos os que me acompanharam nesta caminhada e principalmente a todos os que fizeram e fazem parte dos outros 999 momentos inesquecíveis!
Foram poucos mas bons!
Ah, e parabéns ao Manuel e ao Cláudio por terem criado esta bela cache!
Bringer, MAntunes, MitoriGeikos, MightyReek, Lamas, MCA, Bargão_Henriques, aplicada, mtrevas, BTRodrigues & Natacha, Segitários e Rajadas
3 responses so far ↓
1 Bringer // Jul 27, 2010 at 15:22
As fotos assentaram na perfeição! Obrigado Nuno
2 Silvana // Jul 28, 2010 at 12:00
É o modelo que é bom! Lol!
Just jocking!
Esta cache é sem dúvida, uma grande aventura!
Uma aventura que o meu gps teima em registar com 31 kms de trilho… 😉 Vai-se lá saber porquê!…
Parabéns pela descrição do passeio.
E sim, a bota veio dar “á costa”…
3 lynxpardinus // Jul 28, 2010 at 16:40
Espero que ninguém tenha pensado em dar mergulhos no Douro a jusante do local da queda do sapato…
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