Este log ganhou o concurso de melhores logs de Março de 2013.
#618 – 17:20
A essência das coisas que realmente importam na vida cresce e amadurece sob a asa liberta da imaginação.
Apesar de a liberdade total não passar de uma utopia, para a imaginação simplesmente não existem limites e é nesse espaço sem fronteiras que o pensamento deambula sem raízes ou grilhões.
Foi algures entre as margens do sonho e a acordada realidade que os contornos, ainda meio difusos, de uma aventura surgiram na sua forma embrionária. Daí até se tornar um objetivo concreto e real não passaram muitos dias e, a “Rota Vicentina” ficou coloridamente estampada no horizonte da minha vontade.
Melhor do que se ser livre, pedalando pelos contornos sinuosos das escarpas e falésias da costa vicentina, é fazê-lo na companhia de, passando a tautologia, amigos de verdade.
Entre conselhos, dicas, sugestões e outros que tais, em pouco tempo o plano final ficou nitidamente delineado e a consecução do objetivo já não era somente um sonho. Foi assim que uma mão-cheia de amigos deu por si a pedalar os 250 curvilíneos quilómetros que separam Tróia de Sagres.
A distância entre estes dois pontos não é de longe nem de perto um segmento de reta e, ao longo dela, não escasseiam os tupperwares e seus descendentes, mas este cativou-me a atenção pelo seu nome, descrição e principalmente pelas fotos que decoram a sua galeria.
Assim, no final da segunda etapa da odisseia, após ter descansado um pouco no Parque de Campismo do Serrão, equipei-me a rigor e lá fui em busca da almejada liberdade inglesa.
A tarde não era das mais solarengas e as nuvens pairavam lentamente no céu, mas a luminosidade solar destapava claramente a formosura natural da paisagem, revelando sem truques ou artimanhas as cores e contornos encantadores da vegetação primaverilmente decorada.
Ao longo do trilho embelezado de um e outro lado pela flora típica da costa, apenas destoavam no solo arenoso as marcas dos pneus de algum TT que ali passou. Tudo o resto era simplesmente perfeito!
Com os passos livremente vagarosos e de olhar feliz alcancei o início do trilho que me levaria até ao local final desta descoberta. Aí, fui mais uma vez surpreendido pela beleza a meus pés. O contraste de cores e mistura de tonalidades ladeando o sinuosamente inclinado e magro caminho colheu-me na forma de uma pintura alegre de Monet. Por entre as nesgas minúsculas de rocha xistosa, pequenas e formosas flores de minúsculas plantas ostentavam a determinação orgulhosa de quem sabe vencer.
Entretanto, num ziguezague inclinado, o cume aproximava-se à velocidade proporcional do bater do meu livre coração.
A escassos metros do esconderijo, deparei-me com três solitárias marias velhas que cuidada e atenciosamente me vigiavam. No entanto, bastaram mais dois ou três passos meus para que ruidosamente levantassem voo e rasgassem, de forma livre e silenciosa, o cinzento azulado do céu.
O tesouro, não o que me rodeava por todos os lados, mas o seu representante plástico, apareceu rapidamente e após o respetivo registo, aninhei-o novamente no seu ninho.
Por mais livre que se seja, há sempre algo ou alguém que nos prende e/ou nos aguarda, pelo que por muito que eu quisesse ficar por ali e contemplar o pôr-do-sol, tal como Zorbas tive que voltar para as obrigações com que me tinha comprometido.
Enquanto regressava calmamente, os tons dourados que prenunciavam o recolher do senhor brilhante embelezavam ainda mais as ingremes encostas debruçadas sobre o oceano.
Durante os três dias de aventura descobri e vislumbrei locais fantásticos. Este foi mais um dos que ficará para sempre guardado no meu coração.
O meu sincero e merecido agradecimento aos owners pela partilha deste lugar tão fantástico e especial.
"Prefiro as cicatrizes que uma queda das nuvens pode provocar na alma, do que nunca ter na lembrança a sensação de liberdade que traz o voo."
OPC – TFTC
NO TRADE
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