Expedição “Chouriços, Alheiras e Sapatos “Michael Phelps” na Linha do Douro”
(Log – parte 1/2)
Bom, agora já não é na Linha do Douro, mas concerteza que foi um dos maiores desafios à minha resistência mental.
Comecemos pelo princípio:
O galo não cantou de manhã, mas o telemóvel não falhou na confiada missão de me acordar. A cama estava mesmo a saber bem… Pudera! Depois da tareia que tinha levado no dia anterior na Linha do Douro acho que era muito bem capaz de dormir até ao estômago fazer questão de me lembrar que já passava da hora do almoço. Mas não, eram umas míseras 8 da matina e já devia era estar de pé. Ou será que não?
A verdade é que tinha as minhas dúvidas. Já na noite anterior tinha começado a torcer o nariz em relação ao percurso de hoje e disse que não prometia nada. No entanto só o simples facto de deixar mais uma aventura, que tinha tudo para se tornar memorável, na borda do prato enquanto outros a desfrutavam roía-me a mente mais do que o receio de fraquejar nas alturas. A vontade venceu e levantei-me!
Lá em baixo na sala de refeições já a conversa se prolongava e pratos, chávenas e talheres andavam em reboliço enquanto se preparavam os estômagos para mais uma caminhada linha acima. Aos poucos o grupo ia aumentando ao redor da mesa. Depois de reconfortar a barriga, voltei ao quarto para arranjar as coisas e saí mais uma vez, tendo sido imediatamente apanhado na curva pela Silvana, que devia estar com medo que eu me perdesse ali naquela enorme povoação e arrastou-me de imediato em direcção à estação.
Por ali já andavam alguns dos valentes que tinham passado a noite (quase) ao relento e…
A verdade, verdadinha é que tenho de ver se avanço com este log, que anda a dar comigo em doido. Quase tanto como as alturas…
Depois de uns momentos de exploração das interessantes ruínas da estação, sempre com a polícia a ver se eu não escapava, abeirámo-nos da grande plataforma giratória em busca do primeiro ponto.
Escusado será dizer que perdemos mais tempo a brincar aos comboios do que a procurar o ponto própriamente dito. A busca “a sério” só se iniciou uns minutos mais tarde quando todo o restante grupo chegou, incluíndo o owner MAntunes, que em boa verdade nos obrigou a penar um bom bocado em redor da estrutura.
Finalmente as primeiras coordenadas já cá cantavam! O comboio ia finalmente partir em direcção a Espanha, mas pelos menos um dos passageiros ainda não estava completamente convencido de que iria completar a viagem até La Fregeneda. Por esta altura ainda tinha secretamente a ideia de experimentar atravessar as primeiras 3 ou 4 pontes e depois logo se via se continuava ou voltava para trás.
Depois de uma pequena, mas interessante palestra do Manel mesmo a meio da ponte internacional, algo que não me estava a deixar muito confortável, entramos por fim em território espanhol, com a foto, que já se está a tornar da praxe, na “Tasquita de Jesus”. Logo ali o primeiro túnel do percurso. Maravilha! Tuneis, grutas, fendas e afins são a minha praia, o pior mesmo era o que se seguia…
Umas centenas de metros mais à frente lá estava um dos primeiro desafios: a primeira ponte em território espanhol. Não foi muito difícil de atravessar, já que esta ainda tinha o passadiço de tábuas de madeira quase intacto, e embora a passagem por esse lado obrigasse a algumas precauções devido ao mau estado da madeira, a verdade é que ao menos não se via o precipicio de um lado e de outro. 2 já lá vão! Ainda faltam 11…
Continuámos a progredir monte acima, acompanhados pelas espectaculares vistas sobre o vale do Águeda, que corria meio bravio à nossa direita. A progressão era um pouco incerta, já que, apesar desta ferrovia estar mais limpa de vegetação do que a do Douro, os espaços entre os travessões eram bastante curtos e inconstantes. Apesar disso, admiravelmente não me estava a ressentir muito dos mais de 28 kilómetros do dia anterior.
(Log – parte 2/2)
Mais alguns túneis e depois… o drama, o horror: a primeira ponte sem passadiço de tábuas. Como já havia treinado noutra ponte da linha do Douro, pedi a dois voluntários que me “ensanduichassem” durante a travessia. O da frente serviria de guia para não ter de olhar (muito) para baixo, e o de trás para me dar alguma sensação de segurança, nem que fosse falsa. Sensação de segurança foi coisa que não abundou durante a travessia e as pernas bamboleavam um bocado enquanto a ponte parecia rodopiar. Tentando controlar a respiração lá fui avançando passo após passo, lentamente mas em ritmo constante. Parar é que não!
Pareceu uma eternidade, mas finalmente consegui chegar ao lado de lá. A sensação foi de alívio, mas foi aí que também percebi que não conseguiria voltar para trás e isso significava que teria de passar por mais umas quantas experiencias do género. Felizmente o prazer da caminhada e da companhia foi sempre superando largamente esse sentimento residual de ansiedade.
Decididamente a travessia da ponte mais comprida e da ponte em curva não foram momentos muito agradáveis, mas certamente recompensou ter conseguido superá-los. Todo o percurso é de uma grande beleza e aquela varanda onde almoçámos é de facto espectacular! Isto sem contar com as aventuras nos túneis, nos quais há que destacar o dos morcegos, o qual me causou uma certa dose de adrenalina.
Depois de deixarmos o vale do Águeda para trás, a ultima parte do trajecto foi percorrida ao ralenti. Finalmente chegámos ao impressionante túnel final. É realmente estranha aquela sensação de andar, andar, andar e ver que o pontinho de luz lá ao fundo mal cresceu. Mas imperceptivelmente foi alargando, alargando, alargando… até que ocupou todo o campo de visão. Um banho de luz! Os olhos desabituados à claridade piscaram à medida que saí do túnel. La Fregeneda era mesmo ali ao virar da esquina e o edifício da estação no final da curva foi uma bela visão!
Não evitei estender-me ao comprido na sombra fresca que lambia metade da plataforma. Que bem que soube! O habitual misto de sensações tomou conta de mim. Feliz por ter conseguido superar uma prova que não imaginava ultrapassar e triste por mais uma aventura ter chegado ao fim. Bom, bom era que isto durasse mais, muito mais… mas talvez por ser algo efémero dê mais valor a momentos como este.
Depois de algumas macacadas enquanto os condutores não chegavam de Barca d’Alva, as despedidas. Que venha mais em breve!
Obrigado a todos os que me acompanharam e me ajudaram a superar esta aventura que irá concerteza direitinha para o meu Top!
Obrigado, claro, ao Manel e ao Claudio por mais esta fantástica cache!
Bringer, MAntunes, Mitorigeikos, Lamas, Silvana, Elena, BTRodrigues, Natacha, Aplicada, MCA, Almeidara, Sagitários, Mtrevas, MightyReek, Ftomar, Rajadas e Bargão Henriques (falta-me mais alguém )
9 responses so far ↓
1 paulo.umm // Aug 7, 2010 at 14:44
Cum caneco!
À tempos que ando para fazer esse trajecto, com ou sem caches. Mas não é para ir num pé e vir noutro. Nãaaa…, é mesmo para ficar a dormir em cima da ponte!!!
Obrigado pela partilha!
2 Eduardo Silva // Aug 8, 2010 at 19:34
Viva. Alguem está interessado em fazer o percurso na semana de 16 a 20 de Agosto de 2010? Sou do Porto e vou passar essa samana em Macedo de Cavaleiros. Há voluntários? EDUARDO – 917293831. Um abraço.
3 Sagitário // Aug 9, 2010 at 10:08
Boas… como já o fiz… no mesmo dia, com o Bringer e uma catrafada de gajos feios e meninas giras… vou voltar a fazer, mas só para Outubro ou coisa parecida.
4 lynxpardinus // Aug 11, 2010 at 16:31
Bringer,
Obrigado pelos relatos maiores de uma aventura magnífica! E parabéns por teres superado as vertigens!!!
Lynx
5 Bringer // Aug 11, 2010 at 17:00
Bem, não se pode dizer que superei as vertigens. Acho que aquilo foi mais do género uma vertigem controlada… pegada 😀
6 Elio // Aug 11, 2010 at 21:45
INVEJA…
mas um dia vou conseguir tirar uns dias para fazer este magnifico percurso.
7 cache.a.lot // Aug 17, 2010 at 15:45
Só queria corrigir que o rio não se chama Tâmega (nem Tamega) mas sim Águeda.
Boas aventuras!
Cumps
Rui
8 Tiago V // Sep 14, 2010 at 23:29
Já fiz este percurso à uns aninhos atrás, é verdadeiramente fantástico.
9 rifkind // Apr 27, 2011 at 23:51
Obrigado a quem avisou (incluindo o António Sampaio) da gralha com o nome do rio Tâmega, que na verdade é o Águeda.
Está finalmente corrigida!
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